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SAÚDE
Adulto "elétrico" pode ter distúrbio
Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, geralmente associado à infância, também afeta outras idades
BERTA MARCHIORI
DA REDAÇÃO
"Eu sempre me senti muito diferente dos outros." Só hoje, após
ter descoberto ser portador do
transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade (TDAH), Daniel,
29, consegue entender sua infância e adolescência. Há cerca de
seis meses, teve a doença diagnosticada. "Descobrir que o que
ocorria tem nome foi um alívio."
Apesar de ser conhecida como
uma doença típica da infância, o
TDAH aparece com certa frequência em adultos. Segundo especialistas, de 3% a 5% das crianças têm o transtorno; delas, de
30% a 70% permanecem com o
distúrbio quando adultos.
O TDAH é uma doença que não
surge em adultos -o portador do
transtorno foi necessariamente
uma criança com o distúrbio.
A doença, caracterizada por dificuldade em manter a atenção,
inquietude e impulsividade, é
mais diagnosticada em crianças
também porque os adultos muitas vezes confundem os sintomas
com a própria personalidade.
Para o psiquiatra Mario Louzã,
47, do Instituto de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas da USP, o
diagnóstico muitas vezes passa
despercebido. "Os adultos não reconhecem aquele comportamento como doença; acham que é o
seu "jeitão"." Muitos procuram o
especialista só após lerem sobre a
doença e se identificarem.
Esse também foi o caso de Daniel. Aos 16 anos, ele chegou a fazer avaliações com psicólogos,
mas ouviu que não tinha problemas. Há pouco tempo, seus pais
leram uma reportagem em uma
revista e reconheceram os sintomas em Daniel. Procuraram um
especialista, que fez o diagnóstico.
Além de ter sido um jovem com
problemas de relacionamento,
antes de descobrir a doença Daniel não se adaptava a nenhum
emprego. Foi demitido uma vez e
pediu demissão em outras. Não
suportava a rotina e a burocracia.
Hoje, trabalha em uma consultoria econômica. Como entendia
seu problema, Daniel diz que
criou as condições de trabalho nas
quais se desenvolveria melhor.
Segundo Louzã, os sintomas no
adulto são parecidos com os da
criança, mas o contexto muda. A
criança tem dificuldade de aprendizado e de relacionamento, é desatenta, não pára quieta e interrompe os outros. Já o adulto com
TDAH apresenta, em geral, dificuldade em concluir os estudos e
em se colocar no mercado de trabalho, não consegue cumprir metas, tem cargo abaixo da capacidade e problema de relacionamento.
Além disso, no adulto os sintomas são mais brandos, mas a exigência social é maior. A sensação
de fracasso acaba levando o paciente à depressão, a distúrbios de
ansiedade e ao uso de drogas.
Neurotransmissores
As causas do transtorno ainda
não são totalmente conhecidas. A
tese mais aceita e embasada cientificamente é a de uma redução,
causada por fatores genéticos, na
quantidade dos neurotransmissores dopamina e noradrenalina.
O tratamento inclui estimulantes ou antidepressivos, para os
sintomas da doença, e psicoterapia, que enfoca consequências
emocionais e sociais. "A psicoterapia é importante, mas deve ser
associada ao tratamento medicamentoso", diz Ênio Roberto de
Andrade, 36, psiquiatra da infância e adolescência e coordenador
do Ambulatório de Distúrbios Hiperativos e Déficit de Atenção do
Instituto de Psiquiatria do HC.
Comumente, o diagnóstico do
TDAH é confundido com o de outros distúrbios mentais, como depressão, mania, transtorno de
conduta e retardo mental. Até
crianças com QI acima da média
muitas vezes são diagnosticadas e
tratadas de forma errada.
Uma das dúvidas dos pais sobre
o tratamento é o papel do estimulante. Eles costumam achar que o
remédio, por ser estimulante, deixa a criança inquieta. Na verdade,
esse tipo de droga compensa o déficit de neurotransmissores.
O paciente não necessariamente
tem déficit de atenção e hiperatividade simultaneamente. Mas o
transtorno e o tratamento são os
mesmos. Em crianças "avoadas",
predomina o déficit de atenção, o
que leva a uma maior dificuldade
de aprendizado; já nas inquietas
predomina a hiperatividade, o
que, muitas vezes, leva a mais
problemas de relacionamento.
LEIA MAIS sobre a doença no site
www.tdah.org.br
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