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REFORMA PSIQUIÁTRICA
Estado substitui hospitais psiquiátricos por lares que reintegram doentes mentais à vida urbana
SP já tem mil pacientes "desinternados"
DA REPORTAGEM LOCAL
O Estado de São Paulo já tem
cerca de mil pacientes mentais
que deixaram os hospitais e estão
morando em "pensões protegidas" ou "residências terapêuticas". São 82 "lares abrigados",
com até oito pessoas em cada um.
Eles continuam sendo acompanhados pelos ambulatórios de
saúde mental ou nos Caps, os
Centros de Atenção Psicossocial.
A diferença é que deixam de ser
doentes internados para se transformarem em pacientes ambulatoriais, incluídos na vida da cidade como qualquer outro cidadão.
Essa passagem, de internado
para morador da cidade, é um dos
princípios mais importantes da
reforma psiquiátrica. A "desinternação" dos pacientes e o consequente fechamento de leitos precisam ser acompanhados da abertura de serviços alternativos e ambulatórios, lembram os médicos.
Os números de São Paulo ilustram essa mudança de cenário.
Oito anos atrás, em todo o Estado
havia 80 hospitais psiquiátricos;
hoje, são 60. O número de leitos
caiu de 23.619 para 15.142.
Os ambulatórios de especialidades em saúde mental, que eram 70
em 1995, hoje são 112. O total de
Caps passou de 12 para 110, aqui
incluídos 22 para álcool e droga.
"Além de significar a reinserção
social e o resgate da cidadania do
paciente, a substituição da internação pelas residências terapêuticas reduz os custos pela metade",
diz Mirsa Elisabeth Dellosi, coordenadora de saúde mental da Secretaria de Estado da Saúde de
São Paulo. Com o dinheiro que se
gastava com um, será possível
cuidar de dois pacientes.
"A secretaria continuará com o
objetivo de reverter a segregação
que durante um século foi imposta aos portadores de transtornos
mentais", diz Mirsa Dellosi.
Há outro fato que os especialistas apontam como importante,
que é o aumento das associações
de pacientes mentais e familiares.
Segundo ela, em 1995 havia oito
associações no Estado; hoje são
43. "Essas associações fazem o
controle social e zelam pela qualidade dos serviços, como prega o
próprio Sistema Único de Saúde."
Há muita coisa ainda por fazer,
lembra o psiquiatra Jonas Melman, coordenador da Associação
Franco Basaglia. Segundo números da secretaria, dos 15.142 pacientes internados no Estado,
8.121 são "moradores", ou seja, só
continuam nos hospitais porque
não têm para onde ir. "São pessoas com mais de um ano de internação, alguns com mais de 50
anos", diz Mirsa Dellosi.
A maior concentração desses
pacientes está no mais gigantesco
hospital do país, o Juqueri, em
Franco da Rocha, na Grande São
Paulo. Segundo o Estado, os 1.261
leitos operacionais estavam ocupados, na sexta-feira, por 38 pacientes agudos, 1.156 por pacientes crônicos, e 67 estavam vagos.
Pela internação
O mesmo Estado que está na
frente nas desinternações, também é pioneiro na construção de
um hospital psiquiátrico modelo.
Desde o ano passado o Instituto
de Psiquiatria do Hospital das Clínicas vem passando por uma ampla reforma, mudando as instalações e as práticas. Aos 50 anos de
existência, o instituto está acabando com suas enfermarias escuras
e trancadas com chave e suas camas de ferro parafusadas no chão.
No lugar, já estão praticamente
prontas enfermarias menores especializadas, com cores e iluminação estudadas. No novo instituto, pacientes circularão pelas
áreas comuns e receberão familiares em ambientes que pouco lembram hospitais. As enfermarias
especializadas evitarão que doentes de diferentes patologias ou
crianças convivam em lugar comum. Com a reforma, o número
de leitos passará de 104 para 210.
(AURELIANO BIANCARELLI)
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