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Caça a ilegais esvazia "Portelinha" nos EUA
Blitz de agência de imigração prende 29 imigrantes brasileiros e motiva fuga de dezenas de outros em condomínio de casas
Detidos aguardarão na cadeia pela deportação; capixaba chegou a se esconder dos agentes dentro de câmara frigorífica
DANIEL BERGAMASCO
ENVIADO ESPECIAL A NEWPORT (RHODE ISLAND)
Uma operação da ICE, a
agência de imigração e fiscalização aduaneira dos EUA,
prendeu 29 imigrantes ilegais
brasileiros e motivou a fuga de
dezenas de outros na cidade de
Newport, em Rhode Island, no
Nordeste do país.
O principal alvo da ação foi
um condomínio de casas que,
por ser habitado majoritariamente por brasileiros, é apelidado por seus moradores de
"Portelinha", em referência à
favela fictícia da novela "Duas
Caras", exibida nos EUA pela
Globo Internacional.
"A imigração varreu a Portelinha, está tudo vazio. Quem
não foi pego, está escondido na
casa de amigos, esperando o clima esfriar para pegar suas coisas e se mudar dali", conta a carioca Adélia, 54, que diz viver
legalmente na cidade, onde é
faxineira (cobra de US$ 50 a
US$ 200 por casa).
Cada casa do condomínio é
dividida em quatro apartamentos. O aluguel de cada um pode
chegar a US$ 1.000 mensais.
A ICE afirma que o intensivo
de caça aos ilegais continuará
na região. De acordo com a
agência, foram presos na quinta-feira passada 42 imigrantes
(além dos 29 brasileiros, havia
também mexicanos e guatemaltecos), entre eles 12 que já
haviam sido deportados anteriormente. Todos aguardarão a
deportação na cadeia.
Escondida no frigorífico
A capixaba Rosana (todos os
nomes dos imigrantes são fictícios), 30, foi alertada sobre os
agentes de imigração pelos gritos de uma colega russa no restaurante onde ambas são cozinheiras. Ela afirmou que se escondeu na câmara frigorífica da
cozinha para escapar.
"Fechei a porta com tanta
força que ela travou por fora.
Fiquei lá por uns 30 minutos,
quase congelando, até que a minha amiga russa me buscou e
me avisou que haviam ido embora. Ela vai ter de ir à Corte e já
avisaram para nem tentar fugir
que a caçarão onde ela for. Com
certeza será deportada", diz ela,
com lágrimas nos olhos.
O capixaba Vítor, 31, que vive
com a namorada, a mato-grossense Fernanda, 39, e a filha dela, de 13 anos, teve sorte: foi interrogado, mas os agentes desistiram de levá-los. A namorada atribui o desfecho aos gritos
dados pela filha.
"Eu estava de baby-doll e me
escondi atrás da porta, então [o
agente] gritava comigo: "Você
tentou fugir!". O homem parecia um cão raivoso. Eu sou
evangélica e comecei a evocar
Deus. Foi quando minha filha
começou a chorar, gritando "I
love America". Ele respondeu
[em inglês]: "Eu também amo a
América" e pediu a meu marido
para irmos embora do país em
dois meses, senão eles voltam."
Fernanda gosta da vida nos
EUA. "Aqui é Primeiro Mundo,
vivo bem, trabalhando com
limpeza. Se quero comer um
frango, vou lá e compro o frango. O duro é agora viver como
fugitivo, sem ter carro no nome, assinatura da Globo e da
Record, sem poder deixar o nome em nada", diz ela. "Eu sinto
muita falta da família. Faz seis
anos que não vejo meus pais.
Meu sonho é conseguir me legalizar, para visitar todo mundo quando eu quiser", diz Vítor.
Casamento marcado
Moradora nos EUA desde os
nove anos, Joana, 19, passa por
outro pesadelo. Ela está legalmente no país, mas seu noivo,
com quem se casaria no próximo sábado, não tem visto e foi
preso na operação. "Estou desmarcando tudo da festa, igreja,
bufê, e pagando multas altas.
Há coisas, como meu vestido e
o DJ, que já estavam pagas. O
prejuízo total será de uns
US$ 25 mil", afirma.
Final da história de amor de
Joana: ela decidiu se mudar pra
Vitória para viver com o futuro
marido. Deixará nos EUA seus
pais, que também vivem no
país legalmente.
Os dois candidatos à Presidência dos EUA -o democrata
Barack Obama e o republicano
John McCain- têm projetos de
regularização dos imigrantes
ilegais, mediante exigências como aprendizado do inglês e pagamento de multas, além de
maior rigor nas fronteiras.
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