|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MEMÓRIA ROUBADA
Polícia diz estar prestes a deter últimos membros; várias peças sacras foram achadas em antiquários de SP
Prisões desarticulam quadrilha de Minas
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) registrou os maiores números de peças sacras roubadas em
Minas Gerais em 1994 (com 74
obras) e em 2003 (65), datas que
marcam o início das investigações
e a desarticulação da principal
quadrilha do país especializada
nesse tipo de crime.
Quem assim classifica o grupo
-e assegura para breve sua dissolução- é o delegado federal
Tadeu de Moura Gomes, chefe da
representação da Interpol no Estado. Ele coordenou a apreensão,
em agosto, de 128 peças (a contagem do Iphan, mais detalhista, somou 152) em quatro antiquários e
em uma casa em São Paulo.
Parte do material apreendido
estava na casa e no ateliê do restaurador José Thimotheo Gonçalves, 73, que foi preso. Segundo a
Procuradoria da República em
Minas Gerais, trata-se de pessoa
"de grande trânsito" entre colecionadores, "peça chave para o
êxito da ação criminosa". Ainda
em São Paulo, em setembro, a PF
prendeu Rosa Maria Granchi, 48,
acusada de pertencer à quadrilha.
Completam o grupo, segundo a
PF: o ex-policial civil Daniel Toledo da Silva, o Samuca, 48, Clarice
Melhado de Luna Cabral, 46, Walter Antônio Gomes, 50 -todos
foragidos da Justiça- e Marcos
Machado, o Maguila, 42, que
cumpre pena por furto de obras
sacras em Franco da Rocha (SP).
A quadrilha começou a ser investigada pela Delegacia Regional
de São João Del Rei (MG) em
1994, após roubo na vizinha Tiradentes (MG). No mesmo ano, segundo a PF, participaram do roubo de 20 peças do Museu Regional
do Sul de Minas, em Campanha.
As primeiras prisões foram em
abril de 1998. Machado e Gomes
-que é irmão de Granchi- foram detidos após tentativa de
roubo em igreja de Mariana
(MG). Machado confessou ter
furtado 136 peças em igrejas de
MG, ES, PR, SC e SP. Citou Gonçalves como um dos compradores, cuja participação no grupo
ainda não era clara para a PF.
Àquela época -e desde então
foragidos- Silva, Cabral e Granchi já eram acusados de pertencer
à quadrilha. Após a ofensiva, os
registros do Iphan de furtos em
igrejas de Minas diminuíram para
cinco em 1998 e três em 1999. Segundo o Ministério Público, o
grupo reiniciou os crimes a partir
de fevereiro de 2000, depois da fuga de Gomes da penitenciária de
Governador Valadares (MG).
A PF em Minas voltou ao caso
em janeiro deste ano, por causa de
uma onda de assaltos em igrejas
do Estado. Segundo o delegado
Tadeu Gomes, a PF já sabe a cidade do litoral paulista onde estão
escondidos Silva e Cabral, faltando pouco para as prisões. Só não
há informações precisas sobre o
paradeiro de Gomes.
À Justiça, no último dia 26,
Granchi negou todas as acusações. Afirmou que nunca esteve
em cidades históricas de Minas.
O mesmo disse Gonçalves. Segundo um de seus advogados, José Oswaldo de Paula Santos, o restaurador "nunca foi membro de
quadrilha nenhuma". O advogado classificou ainda de "absurda"
e "arbitrária" a apreensão de
agosto. "Estão acabando com a vida dele", disse. Os defensores dos
demais acusados não foram localizados pela reportagem.
Texto Anterior: Memória roubada: Brasil ainda é incapaz de evitar sumiço de seu patrimônio histórico e cultural Próximo Texto: Na mira: Vítima de furtos, colecionador vira "expert" Índice
|