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DROGAS
Existe consenso de que não há no Brasil uma rede adequada de atendimento para usuários de álcool e substâncias ilícitas
País negligencia assistência a dependentes
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Há um consenso que une o governo e os grupos "rivais" que lidam com dependência química
no país: o Brasil ainda não tem
uma rede ampla, estruturada e
adequada de assistência médica
para ajudar pessoas prejudicadas
por álcool e substâncias ilícitas.
Uma tímida estrutura de 42
CAPs (Centros de Atenção Psicossocial para Álcool e Drogas),
organizada no ano passado pelo
governo federal (não disponível
em dez Estados), é a principal
oferta da rede pública para os milhões de brasileiros dependentes
de drogas, fora serviços isolados
em hospitais universitários.
Segundo o primeiro levantamento domiciliar sobre drogas,
divulgado no ano passado pela
Senad (Secretaria Nacional Antidrogas), 11,2% da população brasileira é dependente do álcool, 9%
de tabaco e 1% de maconha.
Desde o início do ano, setores de
pesquisa e do governo travam
uma batalha pública em torno da
macropolítica de drogas.
"É uma lástima que se esteja
perdendo muito tempo com uma
discussão de caráter dogmático",
afirma Giovanni Quaglia, representante no Brasil do escritório
das Nações Unidas contra as Drogas e o Crime.
A Senad deve ficar com os militares ou na esfera dos Direitos
Humanos, no Ministério da Justiça? O tratamento deve reduzir os
danos da droga ou pregar a abstinência? O usuário encontrado
com drogas deve ir para a cadeia?
A Justiça deve direcionar o criminoso dependente para o tratamento? Questões como essas dominam o debate. Qualquer que
seja o caminho escolhido, a ausência de um sistema de saúde
preparado emperra a ação.
"Nem o Ministério da Saúde
nem a Senad tomaram a linha de
frente para fazer o tratamento",
diz Ronaldo Laranjeira, presidente da Associação Brasileira de Estudos de Álcool e Drogas.
Tratamento e economia
Cada dólar investido em tratamento significa uma redução de
US$ 4 a US$ 7 no custo da delinquência relacionada às drogas.
Adicionada a economia para o setor de saúde, o total de recursos
poupados pode superar os custos
em uma proporção de 12 para 1.
É com um argumento pragmático, econômico, proveniente de
estudo do governo norte-americano, que as Nações Unidas tentam convencer os países a investir
em tratamento. O documento foi
divulgado na semana passada,
durante reunião da Comissão de
Narcóticos, em Viena.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, citados no documento, os custos da perda de produtividade e mortes prematuras
relacionadas às drogas no país
correspondem a 7,9% do Produto
Nacional Bruto (valor monetário
de todos os bens e serviços produzidos com recursos de um país,
empregados dentro ou fora do
território nacional), ou o equivalente a US$ 28 bilhões.
Segundo Giovanni Quaglia, as
Nações Unidas estão dispostas a
ajudar na expansão dos CAPs
brasileiros. Falta, no entanto, o
governo apresentar o projeto.
São Paulo
Organizados dentro da ótica de
descentralização do SUS (Sistema
Único de Saúde), a maioria dos
oito CAPs da cidade de São Paulo
mantidos pela prefeitura não estão na periferia, onde as dificuldade de tratamento são maiores.
"Moro na periferia. Ali ninguém
sabe desses centros. Fiquei sabendo no boca a boca", disse um dependente de álcool entrevistado
no CAPs de Vila Mariana, bairro
nobre da zona sul.
No Itaim Paulista, periferia da
zona leste, falta o psiquiatra, e o
centro, apesar de já constar da lista de CAPs do Ministério da Saúde, ainda não recebe como tal.
Para ter acesso aos remédios, os
pacientes têm de ir ao hospital
Santa Marcelina, unidade de referência da região, para pegar uma
receita com o especialista.
O programa de álcool e drogas
Cabeça Feita, da prefeitura, recebeu o conceito ruim em avaliação
da própria Secretaria Municipal
da Saúde. Das nove metas, nenhuma foi cumprida -entre elas,
a capacitação de 600 profissionais
de serviços de emergência para o
atendimento de overdoses e intoxicações alcoólicas.
"Embora considere o esforço
para a implantação dos CAPs, a
dependência é um dos danos", diz
Fábio Mesquita, membro da Associação Internacional de Redução de Danos. "As overdoses ainda são subestimadas, e os hospitais não sabem tratá-las."
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