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Usuários discutem tratamentos
DA REPORTAGEM LOCAL
Imagine alguém doente, confuso, sozinho. Quando essa pessoa
busca ajuda médica, a situação só
piora. É tratada como alguém fora
dos padrões, é enganada, chamada de "safada".
Na última quarta-feira, a Folha
acompanhou sessão de tratamento de um grupo de dependentes
de crack e cocaína em São Paulo.
A terapeuta propôs que debatessem a assistência da saúde ao uso
e ao abuso de drogas. Os pacientes evitaram ser identificados:
1) "Conseguir tratamento no
NA (Narcóticos Anônimos) é fácil. Mas quando você quer um tratamento que tenha mais infra-estrutura, a espera é longuíssima,
angustiante. Você se sente um lixo, um nada. Cheguei de fora viciado em heroína. Ninguém sabia
o que era. Se eu tivesse esperando,
estava com os bichos embaixo da
terra. Você fica em casa, esperando o telefone tocar."
2) "Não é só o serviço público,
mas também o privado. Meu psiquiatra não tinha especialização
para me tratar. Nós apenas convivíamos com aquilo. Após cinco
anos, ele procurou um colega e
soube me encaminhar. Tive crises
de overdose, mas chegava ao
pronto-socorro e não sabiam tratar. Fui internado em hospital psiquiátrico, mas não aguentava a
convivência com esquizofrênicos.
Meu problema era outro."
3) "Na clínica particular, tinha
no contrato que iria ter uma consulta por semana. Mas foi uma
roubada. Já fiquei em lugar que
não tinha nem psiquiatra. Pagava
R$ 1.000 e tinha dias que serviam
arroz, feijão e ovo."
4) "O governo não combate a
fome. Vai mexer com a droga? É
assim na periferia: chegou no hospital e cheirou, eles te prendem.
Os médicos não põem a mão e falam: "Você é safado"."
Proposta de parceria
"Nas faculdades de medicina,
ninguém aprende sobre dependência química. Os médicos sabem o resultado, não o processo",
opina Hugo L., coordenador de
divulgação dos Alcoólicos Anônimos, que tentaram, sem sucesso,
fazer uma parceria com hospitais
da prefeitura paulistana para ter
um plantão assistencial. Com a
troca do secretário da Saúde, o
projeto está paralisado.
"Queria achar ajuda", afirma o
músico José Luiz, 36, ex-dependente de crack atendido no CAPs
Vila Mariana, em São Paulo. "O
que te faz ficar [no centro" é a certeza de ser bem recebido."
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