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Abrigo de crianças busca prevenção
DA REPORTAGEM LOCAL
Com quatro anos, quando ingressou no Lar das Crianças, em
São Paulo, Lívia [nome fictício"
costumava "desligar". De repente,
interrompia o que estava fazendo
e começava a olhar para o vazio.
Não adiantava chamá-la. Nada a
arrancava do alheamento.
Volta e meia, também entrava
em crise nervosa. Chorava durante 40, 50 minutos, sem nenhuma
razão significativa.
O pai -um camelô de baixa
renda- sofria de depressão. Colocou a filha no abrigo por não ter
onde deixá-la enquanto trabalhava. Ali, a garota passava todo o
dia. À noite, seguia para casa.
Perto dos oito anos, manifestou
sérias dificuldades motoras e se
revelava incapaz de amarrar os
próprios sapatos. Aos nove, perdeu o pai, assassinado. A morte a
abalou profundamente, tornando-a ainda mais triste e silenciosa.
Hoje, Lívia tem dez anos. Continua no Lar das Crianças e, não raro, "desliga". A diferença é que,
agora, se submete à psicoterapia.
"De uns tempos para cá, percebemos que devíamos priorizar a
prevenção e o tratamento precoce
de problemas emocionais em
nossos internos. A maioria, afinal,
advém de famílias pobres, desestruturadas e muitas vezes violentas", explica Tomas Freund, coordenador da instituição. Fundado
em 1937, o lar se localiza na zona
sul e pertence à Congregação Israelita Paulista. Atende gratuitamente cerca de cem meninos e
meninas, com idade mínima de
quatro anos e máxima de 17.
Embora siga as tradições judaicas, acolhe adeptos de diversas
orientações religiosas. Há décadas, recorre à assessoria de psicólogos. Em abril de 2001, no entanto, resolveu intensificar os cuidados com "a saúde mental da molecada", como diz Freund. Lançou mão, assim, do auxílio de
uma psiquiatra infantil, que avalia
os "casos mais inquietantes".
Depois de minucioso exame, a
especialista não diagnosticou nenhum transtorno em Lívia. Mas
lhe recomendou as sessões psicoterápicas de apoio.
Além da garota, o lar enviou
dois meninos para a apreciação
da médica. Um apresenta sintomas de esquizofrenia. O outro garoto, vítima de agressões domésticas, mostra-se excessivamente irritado. (AA)
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