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Especialistas refletem sobre pesquisa da USP
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma psicanalista e uma
psicóloga -as duas com experiência no tratamento de
crianças e adolescentes-
refletem, abaixo, sobre a
pesquisa dos psiquiatras
Bacy Fleitlich Bilyk e Robert
Goodman:
Monica Seincman, professora do Centro de Estudos Psicanalíticos, em São
Paulo - "O trabalho é, sem
dúvida, muito relevante,
porque oferece subsídios para que se pense a saúde mental dos mais jovens sob a ótica epidemiológica. Ocorre
que a psicanálise busca sempre relativizar os diagnósticos. Enxerga cada pessoa como um ser único, singular.
Às vezes, pelos critérios da
CID-10, um menino se revela hiperativo. Isso não significa, no entanto, que necessite de tratamento.
A doença, de acordo com a
psicanálise, só existe quando
o paciente sofre. E o tratamento se justifica apenas
quando o paciente deseja
parar de sofrer.
Assim, caso aquele garoto
faça parte de uma família
que lhe dá condições de
exercer a hiperatividade,
não haverá drama. Agora, se
vive num ambiente que privilegia a ordem, as chances
de ele se angustiar e sofrer
aumentam.
Outra seara que merece
ponderações é a dos transtornos de comportamento.
Realmente, a CID-10 os define, mas convém encará-los
de maneira ampla. Não basta lhes conferir a pecha de
doença sem meditar sobre o
que significam.
Tais distúrbios, no fundo,
espelham nosso tempo. Retratam uma sociedade que
se mostra confusa em relação a limites."
Maria Cristina Vicentin,
psicóloga e professora da
PUC-SP - "Pesquisas dessa
natureza nos convidam a reparar melhor em meninos e
meninas. Lembram-nos que
a garotada sofre, sim, e que
às vezes precisa de ajuda.
Há, entretanto, o risco de
tomarmos por patológicas
condutas que podem ser
apenas experiências de crescimento, tentativas de os jovens se diferenciarem. Se
chamarmos toda rebeldia ou
toda tristeza de doença, estaremos retrocedendo num
ponto fundamental: aquele
que considera crianças e
adolescentes como sujeitos
em condições peculiares de
desenvolvimento.
Existe, ainda, o risco de
transferirmos para a área
médica tarefas que são da família, dos professores. Devemos ter o cuidado de não
substituir intervenções pedagógicas por medidas psiquiátricas, criando álibis que
nos desresponsabilizem de
educar nossos filhos."
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