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SAÚDE
Tratamento inadequado pode mascarar entorses mais graves e levar a pessoa a adotar postura incorreta
Descuido com lesão torna o pé vulnerável
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Gerson, 55, quebrou dois ossos
na região do tornozelo ao enfiar o
pé em um buraco na praia. Henrique, 20, rompeu dois ligamentos
do tornozelo durante um jogo de
futebol. Maria Lúcia, 32, torceu o
pé durante uma corrida. Assim
como eles, estima-se que 70% da
população mundial apresente pelo menos uma lesão nos pés em
alguma fase da vida.
Entorses, tendinites e fasciites
(inflamação do tecido fibroso que
recobre músculos) são as lesões
mais frequentes e, geralmente,
ocorrem durante a prática de algum esporte, especialmente o futebol e a corrida, pelo uso de calçados inadequados, por falta de
alongamento e desequilíbrio da
força muscular.
Os entorses de tornozelo, que
comprometem os ligamentos, são
os campeões em queixas. Também são as lesões tratadas com
mais descaso pela população. Segundo ortopedistas e fisioterapeutas, a maioria das pessoas só
procura ajuda médica quando o
entorse a impossibilita de andar
ou praticar os esportes habituais.
Colocar gelo, pomadas ou ervas
no local lesionado até alivia em
muitos casos a dor, mas pode
mascarar problemas mais sérios,
deixar o local vulnerável a novas
lesões, além de levar a pessoa a
adotar posturas incorretas para
compensar o local dolorido.
Segundo o ortopedista Caio Augusto de Sousa Nery, 49, presidente da Sociedade Brasileira de
Medicina e Cirurgia do Pé, a ruptura de um ligamento do tornozelo, por exemplo, pode não incomodar em um primeiro momento, mas vai se manifestar com
mais gravidade quando a pessoa
precisar de um esforço maior. "O
sujeito vai correr para atravessar a
rua, por exemplo, e o pé pode fraquejar", afirma. Esse "fraquejar"
pode significar a ruptura de dois
ou mais ligamentos do tornozelo.
Foi exatamente o que aconteceu
com a estudante Maria Lúcia Santana. Há um ano, ela torceu o pé
durante uma caminhada. "Ficou
meio inchado, passei pomada e,
dias depois, a dor desapareceu."
Em janeiro, Santana resolveu
trocar as caminhadas por uma
corrida na pista do parque Ibirapuera. "Na segunda volta, pisei
em falso e escutei um estalo no
pé", diz. Resultado: dois ligamentos rompidos no tornozelo, uma
cirurgia para reconstitui-los e seis
meses sem atividade física.
"O principal problema é que as
pessoas sedentárias iniciam uma
atividade física sem o menor preparo físico e sem a orientação de
um profissional", afirma o ortopedista Pedro Doneux, presidente
da Sociedade Paulista de Ortopedia. Associado ao despreparo físico, segundo ele, está a escolha errada do calçado.
Mas não são apenas os esportistas amadores que descuidam do
tratamento correto das lesões. Segundo o ortopedista Moisés Cohen, 49, professor e chefe do centro de traumatologia da Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo), os atletas profissionais
também negligenciam o tratamento dos entorses. "Se não trata
na primeira vez, a possibilidade
de novas lesões é muito maior e,
certamente, isso irá acontecer em
competições futuras", diz.
Cohen, que já operou jogadores
como Vampeta e Raí, acha fundamental que a pessoa procure um
ortopedista para avaliar, por meio
de exames clínicos e de raios X, a
gravidade da lesão. "Se for um ligamento, basta um imobilizador.
Se for dois ou mais, é quase certa a
necessidade de cirurgia."
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