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HISTÓRIA
Grupo teria perdido 8 alqueires
Loteamento ameaça área de quilombo em SP
CAROLINA FARIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS
A especulação imobiliária é
uma ameaça aos 124 anos de resistência e tradição de 27 famílias
descendentes de escravos que vivem no quilombo Brotas, em Itatiba, o primeiro da região de
Campinas a passar por um processo de reconhecimento oficial
pelo governo do Estado.
Há pelo menos oito meses a comunidade quilombola sofre as
consequências de fazer divisa
com um loteamento de alto padrão que está sendo implantado.
Comprado em 1879 por um casal de escravos alforriados, o local
onde vivem 109 descendentes tem
hoje sete alqueires.
O quilombo agrupa 25 casas
dispersas no terreno. As ruelas, de
terra, não têm iluminação pública
e, apesar de haver água encanada,
a maior parte dos moradores utiliza poços. O local preserva trechos de mata atlântica e não é difícil encontrar saguis e jacus nas árvores. Os moradores dependem
da cidade para trabalhar.
Segundo o Itesp (Fundação Instituto de Terras do Estado de São
Paulo), que faz um minucioso levantamento documental e do terreno para o processo de reconhecimento, a comunidade pode ter
perdido oito alqueires da área.
"Esse loteamento está no limite
da área [do quilombo]. Se comprovarmos que o terreno dos quilombolas, por direito, é maior do
que esses sete alqueires, a área foi
invadida pelo empreendimento",
afirmou a antropóloga Patrícia
Scalli dos Santos, 33, do Itesp.
Os proprietários do empreendimento afirmaram que o loteamento existe desde 1976 e que
desconhecem que possam estar
invadindo parte do quilombo. Dizem ainda ter o aval da prefeitura.
A Prefeitura de Itatiba informou que existe um projeto aprovado e que desconhece se houve
invasão, mas irá fiscalizar a divisa.
No Estado há 15 áreas reconhecidas como quilombo, outras cinco em processo de reconhecimento e 15 já identificadas. Cerca
de 1.100 famílias habitam essas
áreas, que começaram a ser mapeadas e identificados pelo Itesp
em 1998.
Em todo Brasil existem 743 quilombos certificados pela União,
porém, a estimativa é que o país
abrigue 2.000 comunidades.
O processo de reconhecimento
pelo Itesp garante aos quilombolas a posse permanente da terra,
além de serviços assistenciais.
Uma das tradições mantidas até
hoje no quilombo Brotas são as
sessões de umbanda, realizadas
no terreiro em uma das 25 casas.
Além do problema da suposta
invasão, os moradores da comunidade temem pelos mananciais,
que estão sendo assoreados pela
terra vinda do loteamento. Os
córregos, que já foram a única
fonte de abastecimento da comunidade, estão praticamente secos.
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