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Camelô sai da rua e reprova ex-parceiros
DA REPORTAGEM LOCAL
"É um absurdo o que os camelôs fazem com os comerciantes",
diz Walter Figueiroa, 38, proprietário de uma loja que vende jeans
na Galeria Presidente, na rua 24
de Maio, centro de São Paulo, dominada pelos ambulantes.
A declaração seria um desabafo
comum não fosse o fato de Figueiroa ser camelô, proprietário de
uma barraca localizada na mesma
rua da qual reclama. O aluguel da
loja foi fechado há um ano.
"Foi uma luta, mas hoje percebo
que é melhor. O cliente não compra porque você está na rua, compra pelo preço", considera. "Logo
eu encerro a venda na barraca,
que atualmente só serve para
atrair clientes para a loja", diz.
O depoimento desse quase ex-camelô endossa a tese do sociólogo Francisco José Ramirez, 27, defendida em abril na Universidade
de São Paulo. "A maioria veio da
economia formal e sonha em retornar para ela", afirma Ramirez.
Segundo ele, o passado dos ambulantes é feito de "idas e vindas".
Figueiroa, por exemplo, é formado técnico em informática e trabalhou como encarregado da metalúrgica Paranapanema. "É um
grupo muito heterogêneo, de pobres e ricos, de maioria migrante,
mas que, em comum, tem o fato
de não apreciar a informalidade
promovida por eles próprios."
"Proto-capitalistas"
Para o economista Marcio
Pochmann, secretário municipal
de Desenvolvimento, Trabalho e
Solidariedade, a feirinha da madrugada reúne os três setores da
economia informal analisados
por ele em estudo da CUT e da
Unicamp, publicado há dois anos.
Os setores são os "totalmente
informais", como as mulheres
que vendem café e chá em tabuleiros, os "proto-capitalistas", que
são as fábricas de fundo de quintal, e os "capitalistas", que usam
os camelôs para driblar o fisco.
O erro do poder público, avalia
Pochmann, é tratar os três grupos
como um só. "É preciso, claro,
impedir que ambulantes concorram em desigualdade com o comércio formal. Mas uma aliança
com universidades poderia tornar possível aproveitar a capacidade empreendedora desses fabricantes informais com transferência de tecnologia desconhecidas por eles", afirma o secretário.
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