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RIO
Sob o comando de Fernandinho Beira-Mar, facção sente a ausência de líderes soltos e a redução no fluxo de drogas para o Estado
Rearticulação do CV gera onda de violência
FERNANDA DA ESCÓSSIA
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
A onda de violência no Rio é resultado da rearticulação da facção
criminosa CV (Comando Vermelho) sob o comando de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho
Beira-Mar, que tenta agora resolver dois problemas logísticos na
organização: a ausência de líderes
soltos e a redução no fluxo de drogas para o Estado.
Preso em 2001 na Colômbia,
Beira-Mar, 34, ficou um ano em
Brasília e foi transferido para o
Rio em 26 de abril deste ano, sendo levado para o presídio Bangu 1
(zona oeste). Ele começou a refazer seus contatos no Rio. A chefe
de investigações da DRE (Divisão
de Repressão a Entorpecentes),
Marina Maggessi, disse que o primeiro passo de Beira-Mar foi
rearmar as favelas do CV, cujos líderes agora lhe devem dinheiro.
"Beira-Mar ressuscitou o CV.
Ele praticamente está carregando
a facção nas costas", afirmou.
Beira-Mar quer soltar os chefes
presos, como Isaías Costa Rodrigues, 39, o Isaías do Borel, e Adair
Marlon Duarte, o Aldair da Mangueira, para melhorar a organização empresarial do CV nas ruas.
Hoje os líderes soltos atuam
mais em ações "operacionais".
Muito jovens, estão interessados
em organizar "bondes" para invadir redutos rivais, mas não sabem
tocar os negócios do tráfico.
"O CV está acéfalo nas ruas",
disse o delegado Fernando Morais, coordenador das delegacias
especializadas do Rio.
Para o subdiretor da DRE da PF
(Polícia Federal), Ronaldo Urbano, há também uma insatisfação
do tráfico com a redução no fluxo
de entrada de drogas. Segundo
ele, a PF apreendeu neste ano 140
toneladas de maconha e sete de
cocaína, quase igualando as 146
toneladas de maconha e próximo
da marca de 8,4 toneladas de cocaína apreendidas em 2001. Da
maconha apreendida, cerca de
60% seguiria para o Rio.
"Eles estão tendo de desdobrar
[fazer render, misturando com
outras substâncias" mais ainda a
droga. Não vou dizer, porém, que
houve desabastecimento. Há uma
redução, não um estancamento
do fluxo", afirmou Maggessi.
Morais disse que, antes de ser
preso, Beira-Mar fornecia 70% da
droga para as favelas do Rio. Depois que foi para a cadeia, o percentual caiu para 40%.
Colômbia
Há quem veja, nas táticas de Beira-Mar, influência de sua passagem pela Colômbia, quando fornecia armas aos guerrilheiros das
Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em troca de
drogas, e da facção paulista PCC
(Primeiro Comando da Capital).
Urbano aponta semelhanças
entre táticas usadas na Colômbia
e ações realizadas por traficantes
do Rio, especialmente ataques a
prédios públicos e ameaças a autoridades. "Eu já encaro esses atos
do Rio como atos de terrorismo.
Pelo que eu conheço, é muito semelhante [à Colômbia". Não posso dizer que eles empregam esses
métodos em razão de terem
aprendido por lá, mas, em termos
de ação, há uma semelhança",
afirmou Urbano.
Para Fernando Morais, Beira-Mar quer imitar os guerrilheiros
colombianos. "Ele andava com o
Negro Acácio [um dos principais
líderes da organização colombiana". É um elo importante entre as
Farc e criminosos brasileiros."
Morais disse que os atentados
da madrugada de quarta-feira são
uma prova do progresso do crime
organizado. "Os líderes antigos
do CV não faziam essas mobilizações porque, entre eles, não havia
ninguém envolvido com o tráfico
internacional", afirmou.
Armas
A hipótese da influência colombiana sobre os métodos do CV
não é unanimidade na polícia. Para Maggessi, Beira-Mar "nunca
foi nada" na guerrilha e apenas
fornecia armas aos guerrilheiros
em troca de drogas.
O corregedor de Polícia Unificada, Aldney Peixoto, disse que a
mudança das ações do tráfico se
deve principalmente ao aumento
da corrupção. "Eles têm mais dinheiro e muita gente boa por trás
deles", disse.
Peixoto considera que a fragilidade do sistema de segurança tem
contribuído para aumentar a ousadia do tráfico. "Em vez de a polícia perseguir os traficantes, deveria acabar com o tráfico. Os traficantes se sucedem", declarou.
Governo
A coordenadora de Segurança
do Rio, Jacqueline Muniz, disse
que o tráfico mudou seu modo de
atuação porque está asfixiado
com a ação policial, tanto nas ruas
como dentro dos presídios.
"Eles estão partindo para ações
simbólicas e políticas. Nada mais
resta a eles a não ser ameaças difusas", afirmou Muniz.
Para o subsecretário de Inteligência da Secretaria de Segurança
Pública, coronel Antônio Freire,
os traficantes estão utilizando os
atentados como "moeda de troca" com a polícia.
"Eles estão tentando criar um
clima de terrorismo para conseguir benefícios e diminuir a repressão. Antigamente, havia uma
certa tolerância com o tráfico, hoje, não. Estamos revidando. Uma
prova disso é o isolamento dos
traficantes nos presídios", disse.
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