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Aposentados não encontram remédio
DA REPORTAGEM LOCAL
"Quanto mais você vai descendo para as periferias, mais terrível
a situação vai ficando. O povo não
encontra remédio nenhum." Terezinha Monteiro Batista, 65, mora no Jardim Brasil, 50 minutos de
ônibus do centro de São Paulo,
não tão longe assim. Ela pertence
ao conselho gestor da Unidade
Básica de Saúde do Parque Edu
Chaves, zona norte da cidade.
É faca de dois gumes, faz queixas e ouve queixas. Ela tem osteoporose e o médico do Hospital Pérola Byington receitou três remédios. Há seis meses, parou de tomar dois, diz que o hospital não
"está entregando mais". Um deles, de cálcio, custa R$ 54,70.
"Seu" Antonio Conceição, 67,
foi levado ao posto para fazer inalação porque fazia questão de dar
seu depoimento. Fala com muita
dificuldade. "Eu não posso andar,
e vou de posto em posto, com a
receita na mão. A vista está escura. No Tatuapé disseram que tem
muita gente na fila."
Conceição, pedreiro desde os 12
anos, já viajou o país inteiro, trabalhou no Carandiru. Agora não
aguenta "fazer um cimentado no
chão, é dor quando chove, é dor
quando faz sol".
Conceição nem sabe quais remédios que deveria estar tomando e deixou de tomar. Nas mãos,
tem receitas velhas, com data de
mais de um ano, que não foram
aviadas ou já foram esquecidas.
Todos ali vivem de aposentadoria, R$ 240. A maioria mora sozinho, "eu e Deus", como dizem.
Vivem correndo perigo. Sebastiana Silva Oliveira, 77, tem hipertensão que chega a passar dos 22
por 12. "Quando falta o captopril,
eu tenho que comprar, senão
morro." Mas os outros, receitados
pelo médico, ela não toma mais.
Maria de Lourdes Menezes dos
Santos, 66, procurou Terezinha
Batista por causa do marido,
"seu" Euclides, 89, que precisa de
três remédios e só encontra um.
Ele não anda mais. É a mulher,
Maria Santos, quem percorre os
postos em busca dos remédios.
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