UOL


São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Médicos desmistificam "remédios" contra ressaca

DA REPORTAGEM LOCAL

Não culpe o fígado. Aquele mal-estar estomacal e a ressaca que abatem depois de excessos natalinos nada têm a ver com ele. É do estômago mesmo a origem de tanta indisposição. E aqueles medicamentos populares de venda livre, tidos como protetores do fígado -alguns oferecidos em pequenas garrafinhas- não têm capacidade de preservar ou recuperar o órgão como alguns pensam.
"Comer e beber não faz mal ao fígado. O que existe são problemas de estômago e medicamentos que facilitam a digestão", afirma Granville Oliveira, assistente da gerência geral de medicamentos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
"Esses remédios não têm nada que mostre que sejam hepatoprotetores. É gastar à toa. E às vezes as pessoas bebem demais achando que protege", afirma Flair Carrilho, professor do Departamento de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Na verdade, a maior parte dos remédios tachados como hepatoprotetores são digestivos e eles tiveram de mudar de nome depois de uma reavaliação da agência concluída neste ano.
Segundo Oliveira, substâncias hepatoprotetoras "verdadeiras" são oito -silimarina, acetilmetionina, metionina, colina, betaína, ornitina, acetilcisteína e ácidos biliares- à venda só com receita médica e indicados para situações graves, quando há risco de uma hepatite (inflamação do fígado) fulminante, por exemplo, associada à intoxicação por remédios ou virose. Riscos que não existem em uma noite de bebedeira.
De acordo com o hepatologista clínico Marcio Dias de Almeida, da Unidade do Fígado do Hospital Albert Einstein de São Paulo, o que faz algumas pessoas serem mais sensíveis aos efeitos do álcool são diferenças nas enzimas que metabolizam a bebida. Mulheres e orientais são mais suscetíveis, mostram estudos. A idade também diminui a capacidade de digerir o álcool

Não abusar
"O segredo é alimentação e hidratação. E não abusar", indica, contra a ressaca e mal-estar.
Almeida afirma que ingerir carboidratos (que serão transformados em açúcar) ajuda a diminuir os sintomas da ressaca. A sensação de estar "mareado", enjoado, vem da falta de glicose. O álcool diminui a capacidade do corpo de transformar os nutrientes na substância, que é um combustível para o organismo.
A bebedeira causa ainda a perda de magnésio, que também contribuiu para a tontura, boca seca. Por isso comer pão, arroz e feijão, que contêm a substância, pode ajudar, antes e depois, afirma ainda o hepatologista Almeida.
A maior parte das drogas anti-ressaca, afirma ele, tem analgésicos, que podem contribuir para uma melhora geral. Outras ainda têm cafeína, um estimulante.
De acordo com o gastroenterologista Jaime Eisig, do Hospital das Clínicas de São Paulo, no "tratamento" dos abusos natalinos deve-se evitar produtos efervescentes, também de venda livre nas farmácias. Em geral, esses remédios causam um alívio imediato, mas alguns contêm bicarbonato de sódio e aspirina, que podem irritar ainda mais o estômago depois da ingestão do medicamento, principalmente em pessoas com predisposição a problemas gástricos. O bicarbonato, por exemplo, dilui a gordura, mas ao mesmo tempo ataca as paredes do órgão, explica.
O hábito de algumas pessoas de usar drogas para úlcera, gastrite e esofagite (inflamação do esôfago) para evitar o mal-estar é condenado por gastroenterologistas.
"Para o abuso de álcool e excesso de comida, nenhuma dessas medicações é indicada. Elas só protegem quem já tem o problema", diz Frederico Magalhães, professor titular de gastroenterologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). (FABIANE LEITE)


Texto Anterior: Emagrecer no Natal requer força de vontade
Próximo Texto: SP 450: Imagens fazem o resgate do que a cidade destruiu
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.