|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Médicos desmistificam "remédios" contra ressaca
DA REPORTAGEM LOCAL
Não culpe o fígado. Aquele mal-estar estomacal e a ressaca que
abatem depois de excessos natalinos nada têm a ver com ele. É do
estômago mesmo a origem de
tanta indisposição. E aqueles medicamentos populares de venda
livre, tidos como protetores do fígado -alguns oferecidos em pequenas garrafinhas- não têm capacidade de preservar ou recuperar o órgão como alguns pensam.
"Comer e beber não faz mal ao
fígado. O que existe são problemas de estômago e medicamentos que facilitam a digestão", afirma Granville Oliveira, assistente
da gerência geral de medicamentos da Anvisa (Agência Nacional
de Vigilância Sanitária).
"Esses remédios não têm nada
que mostre que sejam hepatoprotetores. É gastar à toa. E às vezes as
pessoas bebem demais achando
que protege", afirma Flair Carrilho, professor do Departamento
de Gastroenterologia do Hospital
das Clínicas de São Paulo.
Na verdade, a maior parte dos
remédios tachados como hepatoprotetores são digestivos e eles tiveram de mudar de nome depois
de uma reavaliação da agência
concluída neste ano.
Segundo Oliveira, substâncias
hepatoprotetoras "verdadeiras"
são oito -silimarina, acetilmetionina, metionina, colina, betaína, ornitina, acetilcisteína e ácidos
biliares- à venda só com receita
médica e indicados para situações
graves, quando há risco de uma
hepatite (inflamação do fígado)
fulminante, por exemplo, associada à intoxicação por remédios ou
virose. Riscos que não existem em
uma noite de bebedeira.
De acordo com o hepatologista
clínico Marcio Dias de Almeida,
da Unidade do Fígado do Hospital Albert Einstein de São Paulo, o
que faz algumas pessoas serem
mais sensíveis aos efeitos do álcool são diferenças nas enzimas
que metabolizam a bebida. Mulheres e orientais são mais suscetíveis, mostram estudos. A idade
também diminui a capacidade de
digerir o álcool
Não abusar
"O segredo é alimentação e hidratação. E não abusar", indica,
contra a ressaca e mal-estar.
Almeida afirma que ingerir carboidratos (que serão transformados em açúcar) ajuda a diminuir
os sintomas da ressaca. A sensação de estar "mareado", enjoado,
vem da falta de glicose. O álcool
diminui a capacidade do corpo de
transformar os nutrientes na
substância, que é um combustível
para o organismo.
A bebedeira causa ainda a perda
de magnésio, que também contribuiu para a tontura, boca seca.
Por isso comer pão, arroz e feijão,
que contêm a substância, pode
ajudar, antes e depois, afirma ainda o hepatologista Almeida.
A maior parte das drogas anti-ressaca, afirma ele, tem analgésicos, que podem contribuir para
uma melhora geral. Outras ainda
têm cafeína, um estimulante.
De acordo com o gastroenterologista Jaime Eisig, do Hospital
das Clínicas de São Paulo, no "tratamento" dos abusos natalinos
deve-se evitar produtos efervescentes, também de venda livre nas
farmácias. Em geral, esses remédios causam um alívio imediato,
mas alguns contêm bicarbonato
de sódio e aspirina, que podem irritar ainda mais o estômago depois da ingestão do medicamento, principalmente em pessoas
com predisposição a problemas
gástricos. O bicarbonato, por
exemplo, dilui a gordura, mas ao
mesmo tempo ataca as paredes
do órgão, explica.
O hábito de algumas pessoas de
usar drogas para úlcera, gastrite e
esofagite (inflamação do esôfago)
para evitar o mal-estar é condenado por gastroenterologistas.
"Para o abuso de álcool e excesso de comida, nenhuma dessas
medicações é indicada. Elas só
protegem quem já tem o problema", diz Frederico Magalhães,
professor titular de gastroenterologia da Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas).
(FABIANE LEITE)
Texto Anterior: Emagrecer no Natal requer força de vontade Próximo Texto: SP 450: Imagens fazem o resgate do que a cidade destruiu Índice
|