|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Homem doente tem medo de ficar vulnerável, diz médico
DA REPORTAGEM LOCAL
Há quase três décadas cuidando da saúde de alguns dos
homens mais poderosos do
país, o urologista Miguel Srougi, professor titular da Faculdade de Medicina da USP, avalia
que uma sensação de invulnerabilidade faz com que os homens relutem em ir ao médico.
E diante de um diagnóstico
de câncer, 50% dos pacientes
tendem a esconder a doença.
"Parece que prevalece a sensação de que se o indivíduo falar
que é doente, ele fica inferiorizado na sociedade", diz.
Em seu consultório, na região da avenida Paulista (zona
central de São Paulo), dois terços dos pacientes chegam
acompanhados das mulheres.
A seguir, trechos da entrevista
de Srougi à Folha.
(CC)
FOLHA - Por que os homens relutam tanto em ir ao médico?
MIGUEL SROUGI - Primeiro porque o homem tem receio da
dor, segundo por causa do preconceito cultural e, em terceiro, porque ele tem a sensação
de que é invulnerável. Acho que
esse último motivo seja o mais
forte, mais do que a dor e o preconceito. Os homens crescem
com o conceito da evolução de
que só os fortes sobrevivem e
que, para se impor, precisam
ter saúde. Fica esse estigma de
que ele não pode ficar doente.
FOLHA - No seu consultório também é comum os homens irem
acompanhados de suas mulheres?
SROUGI - Sim, pelo menos dois
terços dos meus pacientes, apesar de serem de classes economicamente mais altas e com
grau de instrução mais elevado,
são trazidos pelas mulheres.
Quando o homem atinge a idade madura, já tem o casamento
consolidado. Nessa fase, a mulher passa a se preocupar muito
com a preservação da família. O
que mostra como essa idéia é
real é que, quando se descobre
um câncer de próstata, muitas
vezes o marido fica na dúvida se
faz cirurgia ou radioterapia. A
cirurgia cura mais, mas dá mais
disfunção sexual. A radioterapia cura menos, mas dá menos
disfunção. O marido fica muito
hesitante em escolher esses
tratamentos. A mulher sempre
quer a cirurgia. A mulher aceita
comprometer a vida sexual dela porque quer o marido vivo.
FOLHA - Como reage o homem
diante de um diagnóstico de câncer?
SROUGI - Com certeza, 50% deles escondem. Não querem que
falem, pedem para dizer que
operou de hérnia. Parece que
prevalece a sensação de que se
o indivíduo falar que é doente,
ele fica inferiorizado na sociedade, passa a ter os horizontes
limitados. Políticos, então, nem
se fala. Eles escondem o quanto
podem a doença. Os médicos
também ficam horrorizados.
Quando operam, querem ficar
trancados no quarto para não
cruzar com ninguém. Isso faz
algum sentido porque a sociedade valoriza a saúde, o fato de
o sujeito ser saudável.
Texto Anterior: Movimento em hospital dobrou na ala masculina Próximo Texto: Danuza Leão: No que dá ter juízo Índice
|