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SAÚDE
Doença afeta 1,8% da população brasileira e pode ter outros sintomas sutis que dificultam o diagnóstico
Epilepsia entre jovens pode ser curável
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Era sábado e a adolescente Cintia Bucci, então com 15 anos, estudava para uma prova que faria na
segunda-feira no colégio Bandeirantes, um dos mais tradicionais
de São Paulo. De repente, "apagou". Foi encontrada no chão, inconsciente, pela mãe.
Os pais levaram a menina a um
clínico-geral, que descartou um
problema mais sério. "É estresse.
Ela é muito exigente consigo mesma", disse o médico. Mas os desmaios, acompanhados de contrações involuntárias dos membros
(mioclonias), tornaram-se freqüentes em casa e na escola.
Começava aí uma via-sacra da
família por mais de dez especialistas, entre neurologistas, psiquiatras e endocrinologistas. Foram
dois anos até que o problema de
Cintia fosse finalmente diagnosticado: era epilepsia, uma disfunção cerebral que afeta 1,8% da população brasileira -cerca de 2,5
milhões de pessoas.
Historicamente cercada por mitos e preconceitos-o termo epilepsia tem origem grega e significa invasão do corpo- a doença,
na sua forma benigna, responde
por 25% do total de casos e é comum na infância e na adolescência. Pode ser controlada com drogas antiepilépticas e, às vezes, até
curada. Cintia, desde que iniciou
o tratamento correto, há sete
anos, não apresentou mais as crises. Atualmente, cursa letras na
USP-SP e atua como tradutora.
Segundo Elza Márcia Targas
Yacubian, chefe da Unidade de
Pesquisa e Tratamento da Epilepsias da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a epilepsia
pode ter origem em ferimentos
sofridos na cabeça, traumas na
hora do parto, herança genética,
abuso de álcool e de drogas, doenças neurológicas progressivas etc.
Ela afirma que crianças até quatro anos são mais vulneráveis às
lesões porque o sistema nervoso
ainda está em formação. "Nessa
fase, até uma forte convulsão pode determinar uma lesão que vai
demorar décadas para aparecer."
De acordo com a médica Maria
Luiza Manreza, da clínica neurológica do Hospital das Clínicas de
São Paulo, entre os jovens que
saem à noite, bebem, dormem
poucas horas e tem um despertar
não-espontâneo, as crises epilépticas podem ser freqüentes, embora pouco reconhecidas, pois as
manifestações são sutis.
Manreza diz que a falta de sono
e o álcool podem promover, em
pessoas com epilepsia, uma
maior irritação no cérebro.
Alguns tipos de epilepsia benigna se caracterizam por "ausências", outros por contrações rápidas nos braços (com total preservação da consciência), que leva a
pessoa a derrubar objetos da mão.
A dificuldade de diagnóstico reside no fato de, muitas vezes, o
eletroencefalograma não registrar
as descargas elétricas no cérebro.
Nesses casos, segundo Yacubian,
o histórico clínico do paciente e
testemunhos de pessoas que já
presenciaram as crises são muito
importantes para a investigação
do tipo de epilepsia em questão e
da terapia correta a ser prescrita.
Embora hoje 70% das pessoas
com crises epilépticas sejam tratadas com as drogas antiepiléticas,
casos em que a doença não responde ao tratamento podem ser
resolvidos com outras alternativas, como a cirurgia -retirada da
parte cerebral lesionada- ou
uma dieta rica em gordura.
No Brasil, algumas medicações
e a cirurgia são custeadas pelo
SUS (Sistema Único de Saúde).
Para Yacubian, que também
preside a ABE (Associação Brasileira de Epilepsia), o maior problema das pessoas com epilepsia
ainda é o preconceito. "Até os familiares evitam falar o nome da
doença", afirma Manreza. "É uma
pena porque as pessoas podem
viver normalmente. Ninguém
cria problema se a pessoa é diabética ou asmática."
Além do preconceito, há também falta de informação. É comum, por exemplo, as pessoas
com epilepsia terem a boca machucada e até dente quebrado
porque, durante a crise, alguém
enfia o dedo na boca para "desenrolar a língua".
Nessas situações, a pessoa não
respira porque o centro respiratório do cérebro está envolvido pelas descargas elétricas, que também alteram os batimentos cardíaca e a pressão arterial.
Serviço: no próximo dia 9, a ABE faz um
ciclo de palestras sobre epilepsia. Informações: www.epilepsiabrasil.org.br
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