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SISTEMA PRISIONAL
Unidade de Presidente Bernardes, com 80 presos, tem câmeras, bloqueador de celular e detector de metais
Em cadeia de SP, até funcionário é vigiado
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Nenhum agente pode ficar sozinho com preso ou entrar nos pavilhões das celas sem passar antes pelo detector de metais. Tudo é acompanhado de perto, e gravado, pelo sistema de câmeras.
Funcionários e presos não sabem quando vão se encontrar. Há
rodízio periódico de tarefas, coordenado pela direção do presídio.
É assim que funciona o CRP
(Centro de Readaptação Prisional) de Presidente Bernardes, a
589 km de São Paulo, a única unidade do país equipada com bloqueador de celulares para impedir a comunicação entre membros de facções criminosas, como
o PCC (Primeiro Comando da
Capital).
Presos e funcionários são vigiados 24 horas por dia no interior
do presídio especial, inaugurado
em abril deste ano para manter
isolados e inativos os principais líderes de organizações do crime,
articuladores de rebeliões e presos
que não se adaptam às regras de
disciplina em unidades comuns.
""Para colocar algo [armas ou
celulares" para dentro, só se tiver
a participação de vários funcionários. Um só não basta", disse o diretor do presídio, Antonio Sérgio
de Oliveira, 33, que também se
submete ao detector de metais
quando entra na unidade.
Cada um dos cerca de cem funcionários passou por verificação
de antecedentes antes de começar
a trabalhar no CRP. Foram escolhidos os que não respondiam a
processo criminal ou a sindicância interna por faltas graves.
""Todo aquele aparato não
adiantaria nada se não houvesse
funcionários eficientes", afirmou
o secretário da Administração Penitenciária de São Paulo, Nagashi
Furukawa, em discurso na inauguração do CRP.
Segurança
O CRP tem placas de aço no
chão, em meio ao concreto, para
impedir a abertura de túneis. Os
presos não têm contato físico com
parentes ou advogados.
Os internos saem das celas individuais uma vez por dia, para banho de sol de uma hora. Três funcionários escoltam o condenado,
algemado, acompanhados de um
cão rottweiler -os mais famosos
são o ""Saddam" e o ""Leão".
No máximo, cinco presos permanecem ao mesmo tempo no
pavilhão. Há seis cachorros-guardas no canil do CRP, treinados
pela Polícia Militar da região.
Não há trabalho ou escola, e os
detentos não transitam livremente pelas galerias. Não há rádio ou
televisão, e os internos não podem cozinhar nas celas, riscar ou
colar coisas nas paredes. Podem
ler apenas cerca de 300 livros na
biblioteca da unidade, a maioria
""educativos".
Presos
Estão na unidade os principais
fundadores do PCC, José Márcio
Felício, o Geleião, e César Augusto Roris da Silva, o Cesinha, além
do sequestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho,
apontado pela polícia como responsável pela morte do prefeito
de Campinas, Antonio da Costa
Santos, o Toninho do PT.
Desde a inauguração, em abril
deste ano, não houve fugas, princípio de rebelião, reféns e apreensão de armas ou celulares, de
acordo com a Secretaria da Administração Penitenciária.
A unidade, para 160 presos, custou cerca de R$ 7,7 milhões, R$ 1
milhão a menos do que um presídio compacto, para 768 detentos.
O local segue o que o governo
paulista chama de RDD (Regime
Disciplinar Diferenciado), algo
que o Rio de Janeiro irá implantar
em Bangu 1. Hoje, 80 presidiários
estão no CRP -20 a menos do
que os cem agentes.
A proporção funcionário/preso
não reflete a realidade do sistema
prisional. A população carcerária
do Estado saltou de 31,8 mil condenados em 94 para 78,5 mil em
2002 -crescimento de 146,8%.
No mesmo período, o número de
funcionários aumentou de 14,7
mil para 21,5 mil -46,2%.
Os presos indisciplinados podem ficar sob esse regime diferenciado, segundo resolução da Secretaria da Administração Penitenciária, no máximo por 180
dias, na primeira inserção, e até
um ano no caso de reincidência.
Depois, voltam para unidades
""comuns" -prisões com nível de
restrição de direitos mais brando,
onde há visita íntima e banho de
sol coletivo, por exemplo.
Outros dois presídios no Estado
seguem as regras do RDD: o Centro de Reabilitação Penitenciária
de Taubaté, hoje com 125 detentos, e a Penitenciária de Avaré,
com 394 encarcerados.
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