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URBANISMO
De poucos paroquianos, igreja tem atendimento pastoral agitado
Confessionário na catedral atrai desesperado anônimo
DA REPORTAGEM LOCAL
Entre os vários párocos que
passaram pela Sé, costuma-se dizer que a catedral é o refúgio dos
desesperados. A rotatividade é
grande na igreja e, ao ser designado, é preciso se preparar para
missas diárias pouco prestigiadas
e atendimento pastoral agitado.
"Nessas horas, é possível conferir o drama da vida das pessoas",
conta o monsenhor Dario Bevilacqua, 70, da igreja da Consolação, um dos párocos que por mais
tempo ficou na Sé, de 1981 a 1992.
"Pela localização central, a catedral atrai essas pessoas por uma
questão de anonimato. Às vezes,
no bairro, elas são conhecidas do
vigário e se acanham", diz o monsenhor, que já ouviu histórias de
crises financeiras, amor e brigas,
sempre "dramáticas".
Casamentos, batizados e outras
cerimônias litúrgicas são raras na
Sé. No caso dos matrimônios, há
duas dificuldades: o desembarque
da noiva na praça e a falta de estacionamento. Já as grandes celebrações internas da arquidiocese
são constantes -até porque é a
igreja onde fica a cátedra (por isso
"catedral") do arcebispo.
A igreja-mãe também é muito
visitada por turistas, brasileiros e
estrangeiros. "Os que vêm do interior costumam visitar a matriz
da cidade, e a Sé é isso", diz.
Essa característica complica um
pouco a vida dos paroquianos. Há
poucos, porém aguerridos.
Exemplo são os membros da Irmandade do Santíssimo Sacramento, uma das associações de
leigos mais antigas de São Paulo,
com sede na catedral da Sé.
A irmandade foi fundada por
volta de 1745, quando, segundo os
arquivos da arquidiocese, "havia
800 casais" no município.
"No passado, tinha muita gente,
mas as senhoras de idade morreram, e o pessoal jovem não quer
entrar", diz a funcionária pública
aposentada Eugênia Santos Fontana, 84, membro da irmandade.
Eugênia sente falta da capela do
Santíssimo, que ficava na Sé, onde
a irmandade se reunia às quintas-feiras. Ela frequenta a catedral
desde que foi inaugurada, em
1954. "Na verdade, desde que a
matriz provisória funcionava na
igreja da Boa Morte", conta.
Como a catedral levou 41 anos
para ser construída, do início das
obras à inauguração, alguns paroquianos assistiam missas na cripta, pequena igreja que fica embaixo do altar-mór da catedral.
"Papai gostava de passear pela
praça da Sé e ficar observando os
mestres de cantaria e escultores
fazendo os relevos da igreja. Muita gente fazia isso", conta a dona-de-casa Elza Duprá, 84, outra integrante da irmandade.
Desse capítulo da história da catedral, o paraibano Geraldo Soares de Medeiros, 42, sacristão da
Sé há 23 anos, não pode falar. Já
sobre o período de agitação política, ele guarda muitas histórias.
Foi Medeiros o responsável por
cuidar do plano de fuga de lideranças políticas, em caso de repressão policial, no grande comício das Diretas Já, realizado em
frente à catedral, em 1984. "Eles
entrariam pela porta principal e
sairiam pelos fundos", afirma.
Segundo o sacristão, não é fácil
trabalhar na Sé. Uma de suas funções é a revisão da noite. Antes de
fechar a catedral, ele tem de olhar
confessionários, cripta e outros
esconderijos para ver se não há
ninguém dormindo no local.
"Mesmo assim, sempre fica um."
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