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Estilo é gótico "antropofágico"
DA REPORTAGEM LOCAL
Os relevos, ornamentos, esculturas e outros detalhes da catedral
revelam a apropriação -ou "antropofagia", nas palvras do arquiteto Paulo Bastos- do estilo gótico, predominante na obra.
O "orgulho paulista e brasileiro" é expresso na substituição dos
símbolos europeus por guirlandas de café e maracujá, pontuadas
por animais como peixe-boi, tatu
e porco-do-mato. "No centro da
rosácea que fica na entrada, está o
brasão de São Paulo", conta.
Segundo o arquiteto, historiador e professor da USP Carlos Lemos a catedral é coerente com sua
época. "O gótico é um estilo medieval europeu, de uma época em
que o Brasil nem existia. Mas no
fim do século 19, houve a corrente
do ecletismo, que significa a coexistência de estilos opostos. Nada
mais natural que o arquiteto o escolhesse", considera Lemos.
A catedral substituiu a antiga
matriz da cidade, construída em
1598 e reformada em 1745, quando ganhou a torre principal. Na
época, diz Lemos, a igreja teve de
ser demolida porque um plano de
remodernização de São Paulo, feito pelo então prefeito conselheiro
Antônio Prado, criava uma espécie de anel viário para desafogar o
centro. "Na região, havia congestionamentos de bondes, charretes
e carros. O plano foi criado pelo
chefe da prefeitura, Victor Freire,
e endossado por um arquiteto
francês chamado Bouvard", diz.
Além da igreja, foram demolidos três quarteirões de casas acima, até a parte onde hoje está o
Fórum Central de São Paulo.
Famílias tradicionais
A igreja "neogótico-renascentista" foi construída com dinheiro
arrecadado em campanhas, que
incluíram, entre os doadores, famílias tradicionais da cidade e até
a Prefeitura de São Paulo.
A maioria dos artistas que esculpiram relevos e ornamentos era
italiana. Profissionais da arte sacra de renome mundial trabalharam na Sé, mesmo que a época não tenha sido pródiga em artistas do gênero. A matéria-prima
era o granito de Ribeirão Pires.
Nos 41 anos de obras, alguns artesãos morreram antes de vê-las
terminadas: o escultor italiano Alfredo Biagini morreu enquanto
trabalhava na execução do baixo relevo do altar de Sant'Ana.
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