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ENTREVISTA
Especialista norte-americano diz que erradicação traz riscos
Agente tem efeito protetor, diz médico
DA REPORTAGEM LOCAL
A relação da bactéria H. pylori
com o câncer gástrico foi um dos
principais assuntos abordados no
simpósio How close are we from
cancer cure (Quão perto estamos
da cura do câncer), que ocorreu
nesta semana como parte das comemorações dos 50 anos do Hospital do Câncer de São Paulo.
O evento reuniu vários oncologistas estrangeiros, entre eles o
médico norte-americano Martin
Blaser, 54, professor de microbiologia da Escola de Medicina da
Universidade de Nova York.
Considerado uma das maiores
autoridades no mundo em H.
pylori, Blaser alerta para a erradicação indiscriminada da bactéria.
Para ele, o microrganismo tem
efeito protetor contra algumas
doenças do esôfago.
Blaser também é responsável
por um dos mais abrangentes estudos sobre a história da bactéria,
surgida há pelo menos 11 mil
anos. Segundo ele, a H. pylori teria chegado ao continente americano com os primeiros povos que
migraram do leste da Ásia. Estudos anteriores sugeriam que os
europeus teriam sido os primeiros a trazer a H. pylori à costa da
América do Sul.
Ele acredita que, na América, a
bactéria foi transmitida de geração para geração entre os indígenas. A seguir, alguns trechos da
entrevista dada à Folha. (CC)
Folha - Para quais casos o tratamento da infecção provocada pela
bactéria H. pylori é indicado?
Martin Blaser - O tratamento é
necessário para quem tem úlcera
gástrica. Esse é o único grupo com
indicação. Como eu discuti na
minha apresentação [durante o
simpósio], ter o H. pylori no estômago pode aumentar o risco de
úlcera e câncer do estômago.
Mas a presença da bactéria também parece proteger o indivíduo
contra algumas doenças do esôfago. A erradicação da H. pylori pode levar à doença do refluxo e ao
adenocarcinoma do esôfago. O
foco das minhas pesquisas é explorar a biologia da colonização
da H. pylori e a natureza dessa interação que leva a uma doença e
que, ao mesmo tempo, protege
contra outra. Para isso, contamos
com a ajuda da biologia molecular, genética e matemática.
Folha - Há perspectivas de quando haverá uma vacina que proteja
as pessoas contra essa bactéria?
Blaser - Há trabalhos sendo desenvolvidos nesse sentido, mas a
situação não é tão clara. Eu tenho
medo de que, se eliminarmos a H.
pylori, estaremos diante de uma
epidemia da doença do refluxo e
de câncer estomacal no futuro. É
preciso mais pesquisas científicas
que nos digam quais pessoas precisam ter a bactéria eliminada,
quais precisam conviver com ela
e quais precisam tê-la de volta.
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