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Agricultora teve de esperar 3 meses para fazer aborto
DA REPORTAGEM LOCAL
No dia 20 de outubro de
2004, a agricultora Severina
Maria Ferreira, à época com 26
anos, estava internada em um
hospital de Recife (PE) para interromper a gestação de quatro
meses de um bebê anencéfalo.
No mesmo dia, o Supremo
Tribunal Federal derrubou a liminar que permitia a antecipação do parto quando a anomalia da criança é incompatível
com a vida, e Severina foi mandada de volta para casa.
"Quando eu me internei no
hospital, o parto estava liberado. Eu ia tomar o remédio à
noite para fazer [a interrupção]
no dia seguinte. Aí chegou a notícia no jornal que não podia
mais", lembra.
Foram necessários mais três
meses de idas e vindas até que
Severina e seu marido Rosivaldo conseguissem a autorização
judicial para o aborto. No hospital, ainda sofreram resistência de médicos anestesistas,
contrários à prática. O bebê,
um menino, nasceu morto.
Severina conta que, quando
soube que o bebê tinha anencefalia, decidiu imediatamente
pela interrupção da gravidez.
"O médico falou que o nenê ia
nascer e morrer. Eu não queria
passar por todo aquele sofrimento de carregar o nenê na
barriga sabendo que ele não ia
ficar comigo. Eu cheguei no sétimo mês [gestação]. Se tivesse
sido liberado logo, não teria sofrido tanto."
A agricultora diz que em nenhum momento se arrependeu
da decisão. "Eu faria tudo de
novo porque é um sofrimento
muito grande para a gente. Eu
espero que eles liberem logo [o
aborto de anencéfalo] para que
outras mulheres não sofram
como eu."
A história virou tema do documentário "Uma Vida Severina", que já ganhou 20 prêmios.
Após quase quatro anos, Severina, diz que ainda sofre quando lembra de tudo o que passou. Ela deseja um outro filho
-é mãe de Walmir, de sete
anos-, mas confessa que tem
evitado uma nova gravidez porque teme viver o "pesadelo" novamente.
CLÁUDIA COLLUCCI
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