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ABASTECIMENTO
Especialistas apontam ligação entre clientelismo político e ocupação irregular de mananciais
"Preservação da água deve ser prioridade"
DA REPORTAGEM LOCAL
"Preservar as áreas de mananciais deveria ser uma prioridade
para o poder público tão grande
quanto combater a violência, afinal a água é indispensável à vida e
às atividades produtivas."
A afirmação de Samuel Barrêto,
coordenador do Programa Água
para a Vida do WWF Brasil, pode
até parecer ingênua, mas resume
o que ambientalistas e especialistas em recursos hídricos disseram
à Folha ao avaliar o aumento nos
custos de tratamento da água na
Grande São Paulo mesmo depois
de se terem investido milhões no
Programa Guarapiranga.
"Não adianta mais o poder público fingir que protege, a população fingir que acredita e a água ficar cada vez mais cara e pior",
afirma Mário Mantovani, da Fundação SOS Mata Atlântica.
Para ele, são os governos os
principais indutores das ocupações ilegais nos mananciais porque tomam decisões que não levam em consideração a necessidade de proteger as fontes de
água. A opinião é compartilhada
por Barrêto. "Falta o olhar integrado da administração e do planejamento. Estamos sempre remediando. Tratamento é isso."
"Historicamente sempre existiu
conivência entre políticos locais e
grileiros de terras nas áreas de
mananciais. A corrupção e o
clientelismo são cardápios suculentos para a degradação ambiental", diz Pedro Roberto Jacobi, vice-presidente do Procam (Programa de Pós-Graduação em
Ciência Ambiental) da USP.
"Os grandes beneficiados com
as invasões estão, em anos como
este, com placas e faixas por todos
os bairros", afirma, fazendo uma
alusão aos candidatos a vereador.
Para Jacobi, o poder público foi
muito paternalista em relação a
ocupações e precisa mudar de
postura. "Houve, sim, paternalismo, mas é difícil medir o quanto
isso levou à ocupação e o quanto
foi necessidade mesmo por falta
de uma política de habitação", rebate Ricardo Araújo, da Sabesp.
"Tecnicamente é possível recuperar represas degradadas. Isso
foi feito em lagos nos Estados
Unidos, mas a um custo altíssimo,
que não precisamos pagar", diz
Mônica Porto, professora de Engenharia Hidráulica e Sanitária da
Escola Politécnica da USP.
Ela diz que se deve "acenar com
a cenoura" para os municípios se
motivarem a preservar as áreas de
mananciais. Uma forma seria dar
uma compensação financeira,
nos moldes do ICMS ecológico.
(MARIANA VIVEIROS)
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