|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ABASTECIMENTO
Projeto de preservação de mananciais deve receber financiamento de R$ 1 bilhão nos seis primeiros anos
Novo programa quer superar erros passados
DA REPORTAGEM LOCAL
Foco em obras e praticamente
nenhum trabalho de conscientização, educação ou mesmo de interação com a comunidade local.
Ligações de esgoto feitas, mas não
conectadas, via rede, com as estações de tratamento. Diminuição
abrupta dos investimentos e da
presença do poder público depois
do fim do projeto. Falta de sintonia com demais iniciativas governamentais nas áreas atendidas.
Foram esses os pecados do Programa Guarapiranga, dos quais o
Programa Mananciais terá de fugir se quiser ter o efeito esperado,
diz Ricardo Araújo, coordenador-executivo do primeiro e coordenador pela Sabesp do segundo.
"O Guarapiranga foi um ensaio,
com boa compreensão, mas só
um ensaio", admite. A "estréia"
do Programa Mananciais ainda é
incerta, mas a previsão é que o financiamento da primeira fase
saia no segundo semestre de 2005.
Serão US$ 342 milhões (R$ 1 bilhão) do Banco Mundial para
ações nos seis primeiros anos,
prioritariamente nas bacias das
represas Guarapiranga e Billings.
A idéia é que o projeto tenha ao
todo 18 anos, mas Araújo é o primeiro a dizer que há condições
para que seja um sucesso de público e crítica. "Precisamos mudar nosso padrão de atuação nas
áreas de mananciais, nosso relacionamento com as pessoas. Precisamos inovar", sustenta.
Dessa vez, há uma previsão de
verba para convênios com ONGs
tendo em vista projetos de educação ambiental, além do plano de
integrar as ações de saneamento e
preservação com as sociais, de geração de renda, saúde e culturais.
Enquanto as medidas estruturais previstas para os mananciais
mais degradados não diferem
muito do modelo do Programa
Guarapiranga (urbanização de favelas e loteamentos), as regiões
dos sistemas Cantareira e Alto
Tietê, ainda numa condição melhor, poderão ter uma política de
tolerância zero, diz Araújo.
"Nossa diretriz básica é melhorar a qualidade da água bruta [antes do tratamento], para postergar maiores investimentos nesse
setor", diz. "Com o Guarapiranga
só conseguimos manter a situação [da qualidade da água] numa
estabilidade precária", completa.
Debates
Ainda neste semestre, um primeiro desenho do Programa Mananciais deve começar a ser discutido em audiências públicas,
outra inovação em relação ao seu
antecessor. A intenção é envolver
todos os setores da sociedade, incluindo ONGs e a universidade.
"As pessoas costumam colocar
muito peso sobre o poder público,
mas esquecem que o problema é
de todos", afirma Araújo.
Apesar das críticas e das autocríticas, o Programa Guarapiranga tem defensores que apontam
ganhos importantes da iniciativa.
Araújo é um deles. "O programa criou um consenso em diversas esferas dos poderes públicos
municipal e estadual sobre como
atuar na questão das ocupações
de mananciais. Mostrou que é
preciso investimento e atenção
permanentes nessas áreas, melhorou as condições de habitação
de mais de 15 mil famílias , ajudou
a conhecer melhor as condições
da represa e melhorou o tratamento de água", enumera.
"Se não tivesse havido o Guarapiranga, é possível que já tivéssemos que estar recorrendo ao tratamento avançado da água", diz
José Carlos Leitão, da Sabesp.
"Os investimentos do programa
podem não ter sido suficientes,
mas, antes dele, por causa da proliferação de algas, achava-se que
se perderia a represa Guarapiranga, o que não ocorreu, diz Ana Lucia Ancona, da Prefeitura de São
Paulo. "Estamos em 2004 e o custo de tratamento, embora alto,
continua administrável", afirma.
Os argumentos convencem a
todos. "O aumento contínuo nos
gastos com tratamento mostra a
falência do modelo do Programa
Guarapiranga. Hoje ainda é possível comprar lotes irregulares na
beira da represa por R$ 70, e os vetores de indução de ocupação, como o Rodoanel, continuam a ser
implantados pelo poder público",
afirma Mário Mantovani, da Fundação SOS Mata Atlântica.
(MARIANA VIVEIROS)
Texto Anterior: Alto Tietê está na "fila da degradação" Próximo Texto: Desconfiança une pobres e ricos Índice
|