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AMAZÔNIA
Certificação ambiental de madeira ajuda seringueiros da terra de Chico Mendes a elevar renda sem devastar a floresta
Xapuri produz coleção ecológica de móveis
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Xapuri (AC) entrou para a história brasileira por causa da violência -o assassinato do seringueiro e líder ambientalista Chico
Mendes em 1988. Agora, a cidade
pode fazer história com uma boa
notícia: saiu de lá a matéria-prima
para a primeira coleção de móveis
ecologicamente correta feita com
madeira da Amazônia.
Mais importante do que a própria coleção, que será lançada terça-feira no Museu da Casa Brasileira, talvez seja o modelo usado
para produzi-la. Ela resultou de
uma aliança entre ex-seringueiros, um engenheiro florestal com
doutorado em Harvard e alguns
dos melhores designers brasileiros, como Carlos Motta, Claudia
Moreira Salles e Etel Carmona,
que coordena a coleção.
O processo começou com a certificação de uma área de floresta
em Xapuri, obtida em março. A
certificação é uma espécie de selo
verde, o qual garante que a extração da madeira é ecologicamente
correta, socialmente justa e economicamente viável. Foi a primeira floresta comunitária do
país a receber o selo do FCS (iniciais em inglês do Conselho de
Manejo Florestal), entidade que
atua em 49 países.
A certificação freou um processo de destruição da mata, conduzido pelos próprios seringueiros.
Com a queda do preço da borracha, as famílias começaram a derrubar a mata para fazer roçados
de feijão, milho e mandioca.
"Nós não sabíamos que estávamos agredindo a floresta", diz
Duda Mendes, 42, presidente da
Associação dos Moradores e Produtores do Projeto de Assentamento Agroextrativista Chico
Mendes e primo do líder ambientalista assassinado. "Com a certificação da floresta, descobrimos
que dá para ganhar mais dinheiro
mantendo a mata em pé."
O engenheiro florestal Virgílio
Viana, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP e doutor por Harvard,
diz que, com a substituição do roçado pela madeira certificada, a
renda anual das famílias deve subir de R$ 1.000 para R$ 6.000.
Viana entusiasmou-se tanto
com Xapuri que decidiu abrir, em
2000, uma fábrica de móveis no
Acre em sociedade com Etel Carmona. "Não adianta só falar contra o desmatamento. Temos que
mostrar que há saídas ambientais
e sociais para as populações da
Amazônia", diz Etel.
A saída ambiental é a mata certificada. A social, segundo ela, é
agregar valor à matéria-prima.
Não por acaso a coleção de móveis chama-se "Jóias da Floresta"
e é uma espécie de manifesto contra a idéia de que mato é praga.
Etel e Viana gastaram, há dois
anos, R$ 500 mil para criar a fábrica de móveis Aver, em Xapuri, e
até dezembro devem ter o retorno
do investimento. Numa cidade de
11.956 habitantes, empregam 25
pessoas, que ganham dois salários
mínimos por mês, um valor alto
para os padrões do Acre, e um
percentual de produtividade. Cerca de 50 pessoas estão envolvidas
com jardinagem florestal, a forma
como Viana chama o processo.
Para designers, a madeira certificada representa o fim de um
mal-estar -o de usar matéria-prima de procedência desconhecida. "Comprar madeira sempre
teve um lado meio criminoso para mim. Quase não dá para trabalhar quando você sabe que a procedência não é boa", diz o designer Carlos Motta, 50. Etel concorda: "Designer sem preocupação
ambiental é um destruidor."
A Amazônia produz madeira
certificada desde meados da década de 90, mas quase toda a produção é exportada. A procura é tão
grande que o produto custa 30% a
mais que a madeira comum.
Com a coleção é possível mobiliar uma casa só com móveis certificados. Custaria R$ 62.500. Os
preços dos móveis variam de R$
1.000 (cadeira) a R$ 10 mil (cama).
"Sei que só a elite pode comprar
porque o que faço é alta costura.
Mas o meu sonho é vender móveis certificados nas Casas Bahia",
afirma Etel. O sonho da exportação ela já realizou: os móveis made in Xapuri já estão à venda em
Nova York.
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