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SAÚDE
Idoso com demência pode ser reabilitado
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
"Jantei e tomei o remédio", escreveu Berta, 81, no pequeno bloco de notas que fica na mesa da
cozinha. Pela manhã, ela faz um
círculo no calendário sobre o dia
da semana. À noite, um "xis" no
mesmo lugar, para saber que
aquele dia já passou.
O "arsenal" com bloco, agenda
e calendário faz parte de uma estratégia de reabilitação contra o
distúrbio neurológico que a atingiu há seis anos, a doença de Alzheimer, a mais comum forma de
demência.
Demências são desordens mentais que aparecem principalmente
após os 60 anos . Elas são caracterizadas por perda de memória e
de funções cognitivas, como atenção, linguagem e capacidade de
planejamento, e afetam terrivelmente o cotidiano do paciente.
A doença de Alzheimer atinge
aproximadamente 1% da população. Essa incidência chega a 20%
aos 80 anos. Ela destrói áreas do
cérebro progressivamente, começando por aquela em que fica a
memória de longa duração, que
nos permite lembrar em que dia
estamos, o que comemos durante
o dia ou se tomamos um remédio
horas antes de dormir. O mal não
tem causa definida e também não
tem cura. Os medicamentos que
existem têm bons resultados como paliativos.
Desde 97, grupos multidisciplinares de neurologistas, neuropsicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais começaram
a aplicar em vários países técnicas
de reabilitação nesses pacientes
aliadas a remédios. "A reabilitação usa recursos ainda preservados do paciente para "esticar" sua
independência", diz o neurologista Paulo Henrique Ferreira Bertolucci, consultor da Abraz (Associação Brasileira de Alzheimer).
Recordações
As atividades de reabilitação podem ser em grupo ou individuais
e acontecem no mínimo uma vez
por semana. Utilizam calendários, agendas e cartazes como formas de orientação no espaço e no
tempo. Para o resgate de informações, são usados textos, discussões e figuras. Os pacientes são
treinados para atividades do dia-a-dia como atender ao telefone e
preparar a agenda de compromissos. Há ainda espaço para atividades de entretenimento, como incentivo para que eles contem suas
histórias de vida.
A memória remota dessa pessoas, aquela que guarda fatos do
passado, como as lembranças da
infância, é uma das últimas áreas
a ser afetada pela doença. Por isso
eles têm as recordações de anos
atrás preservadas.
Estudos feitos no país mostraram que a estratégia, associada
aos remédios, trouxe resultados
até melhores do que o uso isolado
de drogas em pacientes com a
doença leve e moderada. Um trabalho apresentado pela equipe da
neuropsicóloga Jacqueline Abrisqueta-Gomez, coordenadora-clínica do Sari (Serviço de Atendimento e Reabilitação do Idoso) da
Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo), durante o 3º Congresso Mundial de Reabilitação Neurológica, em abril, confirmou resultados de estudos internacionais com pacientes brasileiros.
Eles apresentaram melhora das
funções cognitivas e da qualidade
de vida. Trabalho semelhante feito no Hospital das Clínicas de São
Paulo mostrou a redução de estados ansiosos e depressivos.
De acordo com o psiquiatra
Cássio Bottino, coordenador do
Proter (Projeto Terceira Idade) do
Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, acredita-se que o
cérebro possa se recuperar se for
estimulado. É o que se chama de
"plasticidade neural", diz a neuropsicóloga do projeto, Renata
Ávila. A partir do estímulo, as células nervosas restantes encontrariam novos "caminhos" ou conexões, ultrapassando os "obstáculos", que são as áreas lesionadas.
A reabilitação, no entanto, não
funciona para pessoas no estágio
final da doença.
Onde buscar ajuda: Centro Paulista de
Neuropsicologia do Sari, tel. 0/xx/11/
5539-0155, ramal 182 ou 9; Proter, tel.
0/xx/11/3069-6973
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