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VIDA EM GUETOS
Classe média e pobres de SP ficaram mais próximos geograficamente, segundo pesquisadoras da PUC e da USP
Condomínios crescem e marcam segregação
ANTÔNIO GOIS
ENVIADO ESPECIAL A CAXAMBU (MG)
Na década de 90, a classe média
e a população mais pobre de São
Paulo ficaram mais próximas
geograficamente, mas ainda mais
distantes do ponto de vista social.
Isso porque a segregação social na
capital e na região metropolitana
ganhou novos padrões: enquanto
as classes média e alta procuraram imóveis em condomínios fechados, os mais pobres intensificaram o processo de favelização.
É o que mostra um estudo feito
pelas pesquisadoras Lúcia Maria
Bogus, da PUC-SP, e Suzana Pasternak, da USP. O trabalho foi divulgado no 14º Encontro Nacional da Associação Brasileira de
Estudos Populacionais.
O crescimento dos condomínios horizontais fechados, com
oferta de serviços e áreas de lazer
dentro de um espaço restrito apenas aos moradores, é evidenciado
pelos dados coletados pelas pesquisadoras na Empresa Brasileira
de Estudos de Patrimônio.
Em 1992 (primeiro ano desse levantamento), foram lançados em
São Paulo apenas quatro desses
condomínios. Em 2000, esse número chegou a 55 na capital, além
de outros 15 nas demais cidades
da região metropolitana.
Outro dado que indica essa expansão é o aumento no número
de unidades habitacionais oferecidas nesses condomínios.
Em 1992, foram 168. Em 2000,
foram 2.535, sendo 1.545 dessas
unidades oferecidas em outros
municípios da região metropolitana de São Paulo.
Na mesma década de 90, os dados dos censos do IBGE mostram
que houve uma expansão do número de paulistanos vivendo em
favelas. Segundo o IBGE, essa população era de 711 mil em 1991 e
representava 7,5% da população.
Em 2000, os moradores de favelas
passaram a ser 930 mil e a representar 8,9% da população.
O crescimento dos condomínios e das favelas altera um padrão de segregação consolidado
na segunda metade do século 20
em São Paulo. Enquanto as classes mais altas ficavam nos bairros
ao redor do centro, as mais pobres migravam para a periferia.
Como o crescimento dos condomínios não está acontecendo
apenas nas áreas mais nobres da
cidade, esse novo padrão de moradia volta a colocar em alguns
bairros -como já aconteceu no
início do século 20-, num espaço físico muito próximo, pobres e
a classe média ou alta.
A diferença, no entanto, é que,
apesar de favelas e condomínios
estarem próximos geograficamente, os espaços de convivência
são bem delimitados e não são divididos pelas duas classes.
A tendência da classe média e
alta de se fechar em condomínios
fechados é explicada pelas pesquisadoras pela busca de status e pela
apropriação de marcas de distinção de poder. O argumento de
mais impacto e mais usado pelo
mercado imobiliário, no entanto,
é o da segurança.
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