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Hospitais resistem às novas políticas
DA REPORTAGEM LOCAL
No Estado de São Paulo, onde
está um terço dos leitos psiquiátricos do país -15 mil camas-,
está também o movimento mais
organizado de alerta contra a reforma psiquiátrica empreendida
pelo governo federal.
"Não dá para tratar realidades
distintas numa mesma medida",
afirma Sérgio Tamai, 39, diretor
do departamento de Saúde Mental da Santa Casa, que tem participado das discussões. Tamai explica que, em São Paulo, 9.000 leitos
são ocupados por pacientes-moradores. "Primeiro precisamos
saber quem são, se podem voltar
para casa e em que condições".
Na semana retrasada, representantes de hospitais privados lucrativos e filantrópicos que têm
em comum o fato de prestar serviços ao SUS (Sistema Único de
Saúde) fecharam consenso em
uma proposta de fazer um censo
dos pacientes antes de cumprir
portaria do ministério que, em janeiro deste ano, estabeleceu uma
política de remuneração diferenciada para as unidades. As quem
têm mais leitos recebem um valor
menor de diária hospitalar. Os
hospitais querem mais tempo.
Na primeira etapa da reestruturação, que deveria ter começado
no início de maio, as unidades são
obrigadas a adequar o número de
vagas para módulos com 40 leitos
cada um. Exemplo: se um hospital
tem 168 leitos, terá de criar quatro
módulos e eliminar oito vagas.
O prazo extra para tentar resolver o problema em São Paulo, dado pelo ministério, já está próximo de vencer. A idéia da pasta é
fechar 2.500 leitos psiquiátricos
no país até maio de 2005.
"Admitimos a dificuldade em
São Paulo, onde há um número
alto de moradores, o que mostra
que as instituições viraram asilos", diz Pedro Delgado, coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde. "Mas não vamos
estender os prazos globalmente."
Tamai usa como alerta um estudo patrocinado pela Organização
Mundial da Saúde e publicado em
junho no "Jama" (revista da associação médica dos EUA). Nele,
das 60.463 pessoas ouvidas em 14
países (o Brasil fora), até 85,4%
dos pacientes com transtornos
graves dos locais menos desenvolvidos não tinham recebido tratamento no ano anterior à entrevista.
(FL)
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