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SEGURANÇA
Administrador, que teve o filho assassinado em tentativa de roubo, percorre o Congresso contra proposta de desarmamento
Para pai, arma poderia ter salvado filho
DA REPORTAGEM LOCAL
O administrador de empresas
Jorge Damus, 48, já andava armado quando o filho Rodrigo, 20, foi
assassinado com uma arma de registro raspado durante um tentativa de roubo em 1999.
O pai é responsável pelo planejamento da segurança de um condomínio fechado de Barueri, na
Grande São Paulo.
"Talvez se tivesse preparado
Rodrigo não para viver, mas para
matar, ele teria uma chance". Ontem sua outra filha, de 22 anos,
começou o curso de tiro.
Damus percorreu gabinetes no
Congresso nos últimos tempos
repetindo os argumentos de seu
grupo, o MRC (Movimento de
Resistência ao Crime), contra a
proposta de desarmamento de
particulares que seguiu à Câmara
dos Deputados: as armas ilegais
são as mais utilizadas em crimes e
o projeto em tramitação não mexe com elas. Continuarão, portanto, abastecendo o crime. E a população estará desguarnecida. Na
ação do Estado, ele não confia.
A realidade só será diferente para os que podem pagar empresas
de segurança, afirma Damus.
"Ninguém compra uma arma e
a legaliza para tirar a vida", diz
Misael Antônio de Sousa, 52, diretor regional da ANPCA (Associação Nacional dos Proprietários e
Comerciantes de Armas).
Criminalidade
Os ativistas pró-armas levam
embaixo do braço estudos que
mostram que a criminalidade aumentou onde houve restrições ao
registro e ao porte. E caiu em locais em que o acesso foi facilitado.
As principais fontes são análises
dos crimes com armas de fogo
ocorridos na Inglaterra, país que
proibiu a venda de armas de alto
calibre em 1997 (acima de .22), e a
bíblia do movimento pró-armas,
o livro "Mais Armas, Menos Crimes", de John Lott, ex-professor
das universidades de Chicago e de
Stanford, nos EUA, que, em entrevista recente à Folha, defendeu
que os pobres brasileiros têm o direito de ter armas para defesa.
Da indústria de armas nacional,
que faz o mesmo discurso, os grupos dizem nada receber, e também não esperam muito -o projeto em discussão não arranharia
a principal fonte de lucro do setor,
as exportações, destacam.
"Querem que nos rendamos ao
banditismo", diz o professor de filosofia Luiz Afonso Santos, 56, da
Apaddi (Associação Paulista de
Defesa dos Direitos e das Liberdades Individuais), sobre o projeto.
Vislumbra uma conspiração.
"Não querem o cidadão altivo."
Um dos maiores financiadores
dos movimento pelo desarmamento seria George Soros (megainvestidor internacional), crítico da ação armamentista norte-americana, diz acreditar.
Sousa avança. Diz que os pró-controle não são democráticos.
"Hitler disse que haveria ordem
porque os judeus estavam desarmados", afirma. "Amanhã será o
direito à propriedade que irá embora", diz Damus, do MRC.
Pesquisa de vitimização realizada entre maio e junho do ano passado pelo Ilanud para o Gabinete
de Segurança Institucional da
Presidência da República mostrou que 4% dos domicílios de
São Paulo, 6% no Rio, 5% em Recife e 6% em Vitória possuem armas de fogo.
Como motivo para ter o armamento, 60% disseram que é para
proteção, seguidos de 23% que
afirmaram ser policiais ou das
Forças Armadas. O dono de arma
tem nível superior (12%), ganha
mais de R$ 1.600 (13%) e possui
principalmente revólveres (60%)
e pistolas (28%).
Lembrança de infância
Santos, da Apaddi, diz que a arma faz parte do seu cotidiano. Na
infância mirava em latas. A arma
evitou um roubo em uma praia
deserta numa tarde de namoro na
juventude. Ele não se vê sem ela.
Já Sousa, da ANPCA, viu nas armas uma oportunidade de ganhar
dinheiro. Opera um escritório de
assessoria sobre produtos controlados, mas afirma que as armas
hoje lhe rendem quase nada. Coleciona algumas. "Você está preocupado em defender o que a vida
lhe deu. Isso é do ser vivo." Ladrões fizeram "uma limpeza" na
casa de campo de Sousa quando
não havia ninguém no local.
Jorge Damus cita Thor, deus
guerreiro da mitologia nórdica, e
diz que o problema não são as armas, mas os portadores.
"A espada de Thor adquire a
personalidade de Thor."
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