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MEMÓRIA
Trecho mais famoso de SP é reconstruído digitalmente em exposição
Avenida Paulista de 1919 volta em passeio virtual
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Entre games de última geração e
discussões acadêmicas que colocam Hamlet no enredo de "Guerra nas Estrelas", o que mais chama a atenção na exposição "Game
o Quê?", que o Instituto Itaú Cultural abre nesta terça em São Paulo, não poderia ser menos "tecnológico": a velha avenida Paulista.
O mais famoso corredor de asfalto da cidade, inaugurado em
1891 pelo uruguaio Joaquim Eugênio de Lima, é o tema do passeio virtual "Paulista 1919", criado
pelos engenheiros do Itaulab, o
braço tecnológico do centro cultural. Com ajuda de historiadores,
literatura e imagens da época, eles
tentaram chegar o mais próximo
da realidade do lugar em 1919.
As imagens são exibidas num
telão, e o visitante pode controlar
seu passeio por um mouse, mudando seu ponto de vista e andando de um lado para o outro da
avenida, como num jogo.
A Paulista, antes uma trilha de
bois que cortava a mata de Caguaçu, tinha naquele ano apenas 16
construções, que se espalhavam
do largo do Paraíso (hoje praça
Osvaldo Cruz) à rua Itatiaia (atual
avenida Angélica). "Escolhemos
este ano por já ter edificações significativas e reconhecíveis pelo
público", disse à Folha Marcos
Cuzziol, gerente do Itaulab.
Dessas, dez eram casas, de nomes tradicionais como Alberto de
Paula Silva Pereira e Joaquim
Francisco de Melo mas já com a
predominância de imigrantes alemães e italianos tornados poderosos banqueiros e industriais, como os Von Bullow (da Cervejaria
Antarctica) e os Pinotti Gamba
(dos Moinhos Gamba, depois
Moinho Santista, agora Bunge).
"A Paulista de 1920 já não era
mais a avenida dos barões do café", disse à Folha Benedito Lima
de Toledo, professor titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e autor do livro
"Álbum Iconográfico da Avenida
Paulista", sobre o período.
Cuzziol avisa que a reconstituição não é "100% correta", mas o
grupo liderado por ele tomou alguns cuidados. Por exemplo, a cor
das casas. "A maior parte do material iconográfico que temos é
em P&B, então tivemos de consultar historiadores". Souberam
que as residências na época traziam cor de pedra bege, com algumas raras caiadas de branco.
Para vestir os homens, mulheres e crianças que passeiam entre
Fords T, picapes e bondes vermelhos já movidos a eletricidade
(três realidades no período), o
modelador, que é o técnico que
constrói os personagens em 3D,
fotografou a si mesmo e à sua família com roupas de época.
Mas são os prédios públicos que
mais chamam a atenção, pois, dos
sete reconstituídos, seis deles continuam em atividade até hoje com
alterações relativamente pequenas. É o caso do Hospital Santa
Catarina (1906), do Instituto Pasteur (1916) e dos colégios São Luiz
e Rodrigues Alves (1919).
Os outros são o Parque Villon,
rebatizado de Trianon e hoje com
o nome de Tenente Siqueira Campos, e o extinto Belvedere logo em
frente, talvez o ponto alto da avenida então, com um alcance visual que ia até Santana, que agora
dá lugar ao vão livre do Masp.
A reconstrução virtual de uma
fase vital do urbanismo paulistano dentro de um evento que de
resto trata da história e da cultura
de videogames já é reflexo do clima pré-450º aniversário.
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