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SAÚDE
Acompanhamento médico é importante antes mesmo de a mulher cardiopata tomar a decisão de ter um filho
Cuidado reduz risco em gestante cardíaca
BERTA MARCHIORI
DA REDAÇÃO
No passado, pensava-se que
"uma cardiopata não deveria engravidar; se engravidasse, deveria
interromper a gestação; e, se desse
à luz, não deveria amamentar".
Essa máxima já não faz mais
sentido nos dias de hoje.
A gestação ainda apresenta riscos para a mulher cardíaca, devido à sobrecarga que é imposta pelas mudanças fisiológicas inerentes a esse estado, mas, cuidados e
acompanhamento adequados
minimizam as chances de possíveis complicações.
Atualmente, diz Januário de
Andrade, 61, cardiologista da USP
(Universidade de São Paulo) e
chefe do Departamento de Cardiopatia e Gravidez do Instituto
Dante Pazzanese de Cardiologia,
a cardiopata não só engravida e
tem o bebê como, se necessário,
pode sofrer uma cirurgia cardíaca
durante esse período.
Estatísticas mostram que, no
Brasil, cerca de 4% das gestantes
têm alguma cardiopatia. A mais
comum, de acordo com Daniel
Born, 50, cardiologista da Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo), é a estenose mitral -problema em uma das válvulas do coração, a válvula mitral.
Os cuidados (veja quadro) começam com o planejamento familiar, que deve ser feito em conjunto com o ginecologista e o cardiologista. É importante que a
mulher engravide em um momento oportuno, devido à sua
doença, e que use métodos anticoncepcionais adequados. A forma de anticoncepção a ser adotada depende da cardiopatia.
O DIU, por exemplo, não é indicado a pacientes que tenham
doença valvar -relativa à válvula-, por causa das infecções associadas ao dispositivo intra-uterino, explica o obstetra da Unifesp
Abner Lobão Neto, 36.
Em algumas situações, quando
a gravidez é contra-indicada por
apresentar alto risco à vida e à
saúde da mãe, a laqueadura ou até
a vasectomia do parceiro são alternativas a serem consideradas.
Tomar a decisão de ter um filho
em conjunto com os médicos
também é importante porque a
medicação utilizada para a doença cardíaca pode ser contra-indicada na gravidez. Algumas drogas
têm de ser trocadas no caso de
gestação, já que podem ter consequências sérias, como causar a
má-formação do feto.
Medo
Mesmo com o desejo de ser
mãe, a gestante cardiopata, no geral, tem muito medo, devido aos
possíveis riscos e complicações
que uma gravidez pode trazer a
ela. Assim, o apoio psicológico é
fundamental para que a paciente
vivencie a gravidez com mais
tranquilidade, afirma a psicóloga
especialista em cardiologia hospitalar Denise de Paula Rosa, 55, do
Dante Pazzanese.
O assunto até será tema do Curso de Aperfeiçoamento de Psicologia Aplicada à Cardiologia, da
Socesp (Sociedade de Cardiologia
do Estado de São Paulo).
Esse medo foi o que fez a diarista Miriam Maria da Silva, 39, pensar em abortar na sua terceira e
atual gestação. Ela, que está no
quinto mês, descobriu sua doença
cardíaca -um problema na válvula mitral- em sua primeira
gravidez.
A diarista relata que, durante o
parto de sua primogênita, hoje
com 15 anos, chegou a ter uma parada cardíaca. Por causa disso,
nas duas gestações seguintes, ela
"tinha medo de morrer".
A paciente, que mora em Santo
Amaro (zona sul da capital paulista) e gasta uma hora e meia no
ônibus para ir todo mês ao Dante
Pazzanese, é atendida pelo cardiologista Fábio Bruno da Silva,
33, que, de acordo com a diarista,
foi quem deu força e tranquilidade para que ela levasse a atual gravidez adiante.
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