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São Paulo, domingo, 27 de julho de 2003

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SAÚDE

Acompanhamento médico é importante antes mesmo de a mulher cardiopata tomar a decisão de ter um filho

Cuidado reduz risco em gestante cardíaca

BERTA MARCHIORI
DA REDAÇÃO

No passado, pensava-se que "uma cardiopata não deveria engravidar; se engravidasse, deveria interromper a gestação; e, se desse à luz, não deveria amamentar".
Essa máxima já não faz mais sentido nos dias de hoje.
A gestação ainda apresenta riscos para a mulher cardíaca, devido à sobrecarga que é imposta pelas mudanças fisiológicas inerentes a esse estado, mas, cuidados e acompanhamento adequados minimizam as chances de possíveis complicações.
Atualmente, diz Januário de Andrade, 61, cardiologista da USP (Universidade de São Paulo) e chefe do Departamento de Cardiopatia e Gravidez do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, a cardiopata não só engravida e tem o bebê como, se necessário, pode sofrer uma cirurgia cardíaca durante esse período.
Estatísticas mostram que, no Brasil, cerca de 4% das gestantes têm alguma cardiopatia. A mais comum, de acordo com Daniel Born, 50, cardiologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), é a estenose mitral -problema em uma das válvulas do coração, a válvula mitral.
Os cuidados (veja quadro) começam com o planejamento familiar, que deve ser feito em conjunto com o ginecologista e o cardiologista. É importante que a mulher engravide em um momento oportuno, devido à sua doença, e que use métodos anticoncepcionais adequados. A forma de anticoncepção a ser adotada depende da cardiopatia.
O DIU, por exemplo, não é indicado a pacientes que tenham doença valvar -relativa à válvula-, por causa das infecções associadas ao dispositivo intra-uterino, explica o obstetra da Unifesp Abner Lobão Neto, 36.
Em algumas situações, quando a gravidez é contra-indicada por apresentar alto risco à vida e à saúde da mãe, a laqueadura ou até a vasectomia do parceiro são alternativas a serem consideradas.
Tomar a decisão de ter um filho em conjunto com os médicos também é importante porque a medicação utilizada para a doença cardíaca pode ser contra-indicada na gravidez. Algumas drogas têm de ser trocadas no caso de gestação, já que podem ter consequências sérias, como causar a má-formação do feto.

Medo
Mesmo com o desejo de ser mãe, a gestante cardiopata, no geral, tem muito medo, devido aos possíveis riscos e complicações que uma gravidez pode trazer a ela. Assim, o apoio psicológico é fundamental para que a paciente vivencie a gravidez com mais tranquilidade, afirma a psicóloga especialista em cardiologia hospitalar Denise de Paula Rosa, 55, do Dante Pazzanese.
O assunto até será tema do Curso de Aperfeiçoamento de Psicologia Aplicada à Cardiologia, da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo).
Esse medo foi o que fez a diarista Miriam Maria da Silva, 39, pensar em abortar na sua terceira e atual gestação. Ela, que está no quinto mês, descobriu sua doença cardíaca -um problema na válvula mitral- em sua primeira gravidez.
A diarista relata que, durante o parto de sua primogênita, hoje com 15 anos, chegou a ter uma parada cardíaca. Por causa disso, nas duas gestações seguintes, ela "tinha medo de morrer".
A paciente, que mora em Santo Amaro (zona sul da capital paulista) e gasta uma hora e meia no ônibus para ir todo mês ao Dante Pazzanese, é atendida pelo cardiologista Fábio Bruno da Silva, 33, que, de acordo com a diarista, foi quem deu força e tranquilidade para que ela levasse a atual gravidez adiante.


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