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Droga chega ao cérebro em 10 segundos
Médicos afirmam que tratamento de viciados em crack exige sessões de psicoterapia, uso de tranqüilizantes e até antipsicóticos
Literatura médica diz que consumo da droga provoca problemas principalmente nos sistemas nervoso e circulatório e nos pulmões
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando se fala do crack, o adjetivo "rápido" é obrigatório. É
a droga que, após o consumo,
mais rapidamente causa sensação de prazer. Os efeitos de
bem-estar, no entanto, esvaem-se com a mesma velocidade. O crack é o entorpecente
que mais rapidamente vicia. E é
o que com mais rapidez destrói
o organismo do usuário.
É uma espécie de primo pobre da cocaína. Ambos têm origem na pasta de coca. O crack é
mais barato (a pasta não precisa ser refinada) e mais potente
(em vez de ser aspirado ou injetado, é consumido como vapor,
em maior concentração).
O usuário inala o crack pela
boca -o nome vem do estalo
produzido no cachimbo quando a pedra é aquecida. Em dez
segundos, a droga já está no cérebro. A "viagem" é imediata.
É difícil que um consumidor
de crack migre para a cocaína.
Ele não se contentaria com
uma droga mais leve e que demora para dar prazer.
"No final, o que conta não é o
prazer do crack, mas o desprazer que é ficar sem o crack. É
uma droga muito barra pesada", diz a psiquiatra Analice Gigliotti, presidente da Abead
(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas).
Quando chega ao cérebro, o
crack dispara a liberação da dopamina, o neurotransmissor
que dá sensação de prazer. O
usuário experimenta sensações
de bem-estar, energia e euforia.
De forma natural, a dopamina é
liberada no organismo pelo sexo e pela comida.
Com o tempo, a droga deixa
de ter o mesmo efeito, e o viciado precisa de doses mais altas
para se satisfazer. Com a mente
afetada, ele fica agressivo e desenvolve a chamada paranóia,
uma mistura de desconfiança
com mania de perseguição.
"Tivemos um paciente
-nunca vou me esquecer-
que, quando saiu da observação, começou a quebrar tudo
aqui dentro. Tivemos de chamar a polícia", conta a médica
sanitarista e psiquiatra Luizemir Lago, diretora do Cratod,
um centro estadual de tratamento de viciados localizado
no centro de São Paulo.
As quantidades crescentes de
crack têm efeitos devastadores
sobre o organismo. A literatura
médica aponta, como decorrência, mais de 50 problemas
de saúde, principalmente nos
sistemas nervoso e circulatório, nos rins e nos pulmões.
O vapor quente que se inala
queima os pulmões. Enquanto
quem fuma cigarro precisa de
pelo menos três décadas para
desenvolver enfisema pulmonar, no caso de quem usa crack
bastam poucos anos. A doença
pode levar à morte.
A droga compromete irreversivelmente o funcionamento
dos neurônios, o que atrapalha
a cognição e a concentração.
Acelera o coração e aumenta a
pressão arterial. Com o tempo,
o viciado pode ter um infarto
do miocárdio e, em casos mais
graves, uma parada cardíaca.
O tratamento exige sessões
de psicoterapia e remédios,
principalmente tranqüilizantes. Quando a mania de perseguição é muito forte, a pessoa
também precisa de antipsicóticos. "O tratamento é demorado
e caro", afirma o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Unifesp.
Mesmo que a pessoa consiga
se recuperar do vício, não pode
se descuidar. "Ela é dependente para sempre", diz Pedro Eugênio Ferreira, psiquiatra do
Hospital São Lucas e professor
da PUC do Rio Grande do Sul.
"É como uma vela que queima
até metade e você guarda na gaveta. Se você acendê-la 20 anos
depois, ela vai recomeçar a
queimar do ponto onde havia
parado. Ela não se restaura."
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