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SAÚDE / EMAGRECIMENTO
Médicos alertam para os perigos na adoção de dietas
Endocrinologista afirma que não há estudos que comprovem suas eficácias
Corte britânica indenizou em 800 mil libras uma mulher que sofreu danos cerebrais depois que seguiu uma dieta de desintoxicação
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A segurança das dietas foi colocada em xeque nesta semana
após a decisão da corte britânica de indenizar em 800 mil libras (R$ 2,5 milhões) uma mulher de 52 anos que sofreu danos cerebrais depois que seguiu
uma dieta de desintoxicação
que previa beber muita água
-cinco litros por dia- e alimento sem sal.
Os defensores desse tipo de
dieta alegam que as toxinas de
alimentos não-saudáveis acumuladas no corpo geram problemas de saúde e precisam ser
eliminadas. Já os especialistas
em nutrição classificam essas
restrições como tolices e afirmam que o organismo já tem
seu mecanismo de eliminar toxinas, que é o fígado.
No caso da britânica, uma semana após iniciar a dieta chamada "Amazing Hydration
Diet" ("A Incrível Dieta da Hidratação"), por indicação de
uma terapeuta nutricional, ela
sofreu vômitos e um ataque
epiléptico, que prejudicou a
memória e a concentração.
No Brasil, receitas de dietas
de desintoxicação fazem sucesso na internet. Uma rápida busca no Google traz 1.050 resultados sobre esse tema. Mas os
médicos recomendam cautela.
Dizem que não há evidências
científicas nem da eficácia nem
da segurança dessas dietas.
"Não há estudos que comprovem benefício nem para essa dieta nem para outras da
moda. Como a gente não tem
como comprovar o benefício,
também é difícil saber a extensão de possíveis malefícios",
afirma o endocrinologista Ruy
Lyra, presidente da Sociedade
Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia.
Segundo o médico, as dietas
sérias são aquelas hipocalóricas, balanceadas e controladas
por endocrinologistas e nutricionistas. "É frontalmente contra as boas práticas indicar um
procedimento que não tenha
qualquer apoio científico."
O mesmo entendimento tem
o nutrólogo e cardiologista do
HCor (Hospital do Coração),
Daniel Magnoni. "Não existe
nenhum trabalho de evidência
científica validando essas dietas. Elas podem provocar sérios
distúrbios metabólicos, e, às vezes, podem causar deficiência
muito grande dos minerais, como cálcio, magnésio e potássio", diz o médico.
Magnoni explica que quando
as pessoas fazem uma dieta
com muita restrição de sal, podem perder de dois a quatro
quilos por semana, mas é uma
perda de peso transitória, por
desidratação. "A pessoa tem
fraqueza, sonolência e distúrbios gastrointestinais severos."
Ao mesmo tempo, quando a
dieta envolve a ingestão de
muita água, perde-se eletrólitos e, com isso, sódio, magnésio
e potássio. "Isso pode causar
dores musculares, câimbras e
arritmias cardíacas."
Para o nutrólogo Edson Credidio, diretor da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), nenhuma das dietas da
moda deveriam ser usadas por
pessoas que desejam perder peso porque são desarmônicas e
deficientes em um ou em vários
nutrientes.
"Elas só têm interesse econômico. Não deveriam ser seguidas por nenhuma pessoa com o
mínimo de bom senso e amor
pela sua sanidade física e mental", avalia o médico.
Além dos riscos, a maioria
dessas dietas não provoca um
emagrecimento a longo prazo.
Um artigo publicado no periódico científico "New England
Journal of Medicine" mostrou
que dietas monótonas ou rígidas, como a Vegan (dieta vegetariana radical) e a de Atkins
(que recomenda vetar os carboidratos) são ineficientes porque o peso perdido é recuperado a médio prazo.
"Há uma grande quantidade
de asneiras. No caso da dieta de
desintoxicação, as pessoas se
esquecem de que já nascemos
com um mecanismo de desintoxicação, que se chama fígado.
Aconselho que as pessoas deixem de lado essas dietas e usem
o dinheiro que economizaram
com algo que realmente valha a
pena", declarou Andrew Wadge, da Food Standards Agency
(agência independente do governo britânico para assuntos
de alimentação).
Os médicos são unânimes em
dizer que a perda de peso saudável envolve uma alimentação
com pouca gorduras e açúcares
simples e rica em fibras e a incorporação diária de atividades
físicas que estimulem a queima
das gorduras.
"A única dieta saudável é
aquela em que se come "de tudo
um pouco" e quanto "mais colorida melhor'", diz Credidio.
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