|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Detento troca colaboração por regalia
DA REPORTAGEM LOCAL
Preso chamado de doutor, que
anda fora da cadeia, sem algemas,
participa de festas com bebidas alcoólicas e que até visita a família.
A "parceria" entre detentos e PM
era recompensada com regalias e
promessas de transferência, de redução de pena e de dinheiro.
Os gritos ouvidos por vizinhos
durante a invasão de uma casa no
Brooklin (zona sul), no dia 31 de
março deste ano, revelaram que a
colaboração à PM também rende
status ao preso.
De acordo com um morador,
que não quis se identificar, o preso recapturado no local gritava
"traidor". A ofensa era direcionada a outro preso que ajudou a polícia na localização da casa.
Segundo o mesmo morador,
outro homem respondeu: "Lava a
sua boca para falar do doutor". O
morador também citou o nome
do preso chamado de doutor. É o
mesmo nome apontado no relato
da ação feito pelo Gradi ao juiz-corregedor dos presídios.
O preso recapturado, em depoimento no COC, também disse ter
sido traído pelo outro detento, cujo nome foi citado pelo morador.
O suposto traidor é assaltante de
banco e, segundo o relato do preso do COC, exercia certa influência sobre as operações feitas em
"parceria" com a PM.
O morador também disse que
viu um dos presos recapturados
frequentar a mesma casa com
uma moto meses antes da invasão
pela PM. Um tenente do Gradi
também costuma usar uma moto
para fazer suas investigações.
O próprio preso, em depoimento no COC, relata que ele, outros
três detentos condenados e PMs
participaram de uma festa, com
bebidas alcoólicas, em uma padaria da zona norte, dois dias antes
da suposta tortura.
Familiares de um dos presos
confirmam as regalias para os colaboradores. Dois dias antes da
invasão no Brooklin, um dos detentos foi levado à casa de parentes por policiais do Gradi.
O detento estava sem algemas,
acompanhado de dois PMs à paisana que conversavam e agiam
amigavelmente com ele. Eles chegaram em um carro descaracterizado, provavelmente um Celta,
mesma marca do carro da PM
usado pelos detentos para fugir.
Na ocasião, ele disse que estava
colaborando com a polícia fazia
alguns dias e que, em troca, receberia "algum dinheiro", mas não
falou em valores. Esse dinheiro
seria destinado aos filhos dele.
O preso disse que deixou de ajudar a família porque o serviço que
realizava na prisão, encomendado por uma empresa de fora da
cadeia, foi suspenso. Mas que o
trabalho de colaboração com a
polícia iria resolver suas dificuldades financeiras.
Para Chacal, um preso que também colaborava com a PM, mas
que foi morto por engano pela
própria polícia em julho do ano
passado, a promessa foi de redução de pena. Foi o que o preso disse, por telefone, à mãe antes de
sair para uma operação e levar
três tiros.
Texto Anterior: Presos fogem em carro "camuflado" da PM Próximo Texto: Outro lado: Juiz afirmou que se baseava em norma do TJ Índice
|