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Lugar no prédio custa até R$ 2.500
DA REPORTAGEM LOCAL
Como acontece em barracos de
favelas, um espaço para viver no
prédio do posto de saúde do Jardim Ingá tem seu preço.
A regra para determinar o valor
do "imóvel" é a de mercado: depende da localização e do tamanho. Alguns chegam a custar R$
2.500, segundo os moradores.
"Tem uns que pedem R$ 1.500,
outros, R$ 2.500. Há também lugar por R$ 500. Depende do tamanho", diz Ana Paula Santos, 33,
desempregada, solteira, mãe de
sete filhos e moradora do prédio.
Quem fizer a opção por morar
no lugar será informado que, devido ao nível de urbanização, os
moradores resolveram adotar algo como um plano diretor do terreno do posto de saúde.
Como já falta espaço para as
crianças brincarem, resolveram
que ninguém construirá mais nada na área do prédio.
Embora saiba da oferta e da
venda de espaço no posto e na
área em que ele foi construído,
Ana Paula não teve de passar pela
situação de precisar pagar para
morar em um prédio público.
A mãe dela, Joanita Santos, 56,
foi uma das primeiras a invadir o
prédio, em agosto de 1996.
Joanita tinha sido despejada por
não ter dinheiro para pagar o aluguel da casa em que vivia. Preocupados, vizinhos contaram a ela
sobre o posto de saúde vazio, na
época, há quatro anos.
Na invasão, Joanita ocupou parte de um dos corredores do posto
de saúde. Hoje, vive com 14 filhos
e netos em um dos maiores domicílios do posto -cerca de 150 m2.
A família de Neuma Silva Pinheiro, 22, não teve a mesma sorte. Ela prefere não falar sobre o assunto, mas teve de pagar para morar em uma área externa, nos fundos do posto de saúde. "Não sei
quanto custou. Quem fez o negócio foi o meu marido e o meu sogro", disse ela.
Neuma e o marido, Marcos,
nem pensam em deixar o posto,
onde vivem há cerca de um ano.
Neuma, mãe de Stephanny, 4, e
de Andrezza, 2, está desempregada. Marcos ganha R$ 200 por mês
como cobrador de uma lotação.
"Não dá para pagar um aluguel.
Prefiro economizar e tentar comprar uma casa", diz.
O sonho do casal é conseguir
juntar cerca de R$ 6.000, o suficiente para comprar um barraco,
em um terreno regularizado, segundo pesquisas de preços feitas
pelos dois.
Até conseguir o dinheiro, eles
vão ter que continuar morando
sob uma rampa de acesso para
deficientes físicos e macas do posto de saúde.
A rampa serve de teto para parte
da cozinha e de um dos quartos
da casa. Quem não repara em
uma cortina instalada em um
canto da cozinha não percebe que
ela serve de porta para um quarto
que já foi de Neuma e Marcos.
Agora, o cômodo, que na parte
mais alta não permite que uma
pessoa de 1,75 m fique em pé, é
usado por uma irmã e duas sobrinhas do cobrador.
"Ela o escolheu porque teríamos mais privacidade", disse
Neuma sobre a possibilidade de a
cunhada ter escolhido o outro
quarto da casa, bem menor, mas
com altura suficiente para nele se
ficar em pé.
O cuidado com a privacidade
alheia não é sempre possível, como sabe a família da dona-de-casa Maria de Fátima Pereira da Silva, 50. Sem banheiro em casa, ela,
filhos, netos e o marido têm de recorrer aos vizinhos. "Usamos o
banheiro da casa da minha irmã
ou os dos meus dois filhos", disse.
O cuidado de ir ao banheiro antes de dormir, para evitar acordar
os parentes na madrugada, já está
dando certo há um ano. Até hoje,
segundo ela, ninguém acordou
apertado no meio da noite.
(JCS)
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