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No PR, polêmica chegou a promotor
DO ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Uma mulher de 23 anos que há
dez meses era considerada um caso sem cura de transtorno mental,
em que a única solução seria uma
cirurgia no cérebro, hoje escreve
poesias, desenha e se relaciona
com os outros pacientes.
A história começa bem antes de
novembro de 2002, quando o Ministério Público do Paraná interveio e pediu explicações ao hospital, barrando a psicocirurgia.
Segundo pessoas que tiveram
contato com a paciente -a Folha
não foi autorizada pelos médicos
a entrevistá-la-, ela relata ter sido, aos três anos de idade, abandonada em uma lata de lixo pela
mãe. Foi então adotada por um
casal de ex-lavradores, hoje com
80 e 81 anos, em uma pequena cidade do interior do Paraná.
As internações começaram aos
nove anos e não mais pararam,
conforme relatos dela a médicos.
Agressões a moradores da cidade,
registradas em boletins de ocorrência, alternavam-se com internações em vários hospitais psiquiátricos do interior paranaense.
No início de 1999, ela foi enviada
então a um hospital estadual nos
arredores de Curitiba.
Após nove meses de tratamento, a equipe que a assistia decidiu
que era hora de ela voltar para casa. Mas, na entrada da cidade,
moradores bloquearam o acesso
do carro que a transportava.
De volta ao hospital na região de
Curitiba, passava a maior do tempo "contida" -eufemismo para
amarrada. Quando era solta, novos conflitos. Além de agredir os
outros, feria a si mesma. Seus braços são cheios de marcas.
Segundo um dos psiquiatras
que trataram dela, que pediu para
não ser identificado, foram testados todos os remédios, em todas
as doses. Em meados de 2002, a
cirurgia psiquiátrica já era considerada a única solução.
Denúncia
Não concordando com o diagnóstico, uma psicóloga fez uma
denúncia que chegou ao Ministério Público do Paraná. O promotor Marco Antonio Teixeira então
pediu explicações ao hospital.
O principal ponto era a concordância da paciente. Para que a
psicocirurgia fosse realizada, ela
tinha de ter plena consciência do
procedimento a que seria submetida -e aceitá-lo.
No dia 19 de novembro, o neurocirurgião que iria realizar o procedimento enviou um ofício ao
Ministério Público, reiterando
que deveria haver a operação.
O promotor pediu a avaliação
do caso ao Conselho Regional de
Medicina, que designou uma
banca para analisar a situação. Na
primeira visita, em março, os médicos deram a entender que a cirurgia seria cabível, mas não a recomendaram explicitamente. A
segunda equipe, em junho, explicou a ela o que poderia acontecer.
No dia 11 de julho, em uma reunião entre o Ministério Público,
equipes que atendiam a paciente e
especialistas, houve um intenso
debate, opondo os defensores e os
críticos da psicocirurgia. Depois
disso, a equipe ficou mais tranquila, e a melhora, que vinha
ocorrendo desde o final de abril,
tornou-se mais significativa.
Os desenhos dela, antes extremamente infantis, hoje são "verdadeiros quadrinhos", segundo
Celeste de Freitas, a psicóloga do
Ministério Público. As poesias
também melhoraram. Hoje, a paciente afirma que não quer mais
fazer a cirurgia. (PEDRO DIAS LEITE)
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