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ADMINISTRAÇÃO
Autoras dos planos originais das avenidas Paulista e Hélio Pellegrino apontam "erros grosseiros" nas mudanças
Paisagistas criticam projeto da Faria Lima
DA REPORTAGEM LOCAL
O palmeiral plantado nas avenidas Faria Lima e Hélio Pellegrino,
zonas oeste e sul de São Paulo,
mobilizou duas paisagistas da cidade. Rosa Grena Kliass, uma das
mais conceituadas, e Saide Kahtoumi Proost de Souza enviaram
cartas à prefeita Marta Suplicy
alertando sobre o "mau gosto" do
projeto paisagístico, que, segundo
elas, comete erros grosseiros.
Saide é autora do projeto original da Hélio Pellegrino, feito em
1992, e desfeito agora para dar lugar às palmeiras. Segundo a planilha de custos da licitação, serão
plantadas 1.250 espécies, entre árvores, arbustos e palmeiras, no
canteiro central das vias. Dessas,
525 são palmeiras -macaúbas,
jerivás e 39 imperiais.
A licitação, com custo previsto
em R$ 1,87 milhão, foi vencida pela empresa de obras públicas
Consladel de São Paulo, segundo
o critério de menor preço, por R$
1,39 milhão. A empresa venceu
ainda outras duas das sete concorrências, duas das quais com
projeto em execução.
Pouca qualidade
"Não se questiona o dinheiro.
Aplicar verba em paisagismo, em
uma cidade como São Paulo, é admirável. Mas como gastar tanto
em tão pouca qualidade?", questiona Rosa Kliass.
Os erros, dizem, começam no
conceito. Ciclovia ou pista para
caminhada em canteiro central de
via expressa fere recomendação
do DSV (Departamento de Operações do Sistema Viário). "É inclusive arriscado. Há cruzamentos que interrompem o caminho e
são perigosos", diz Saide.
Os artigos 94 e 106 do Plano Diretor, enviado à Câmara Municipal pela prefeitura, também desaconselham equipamentos em
canteiros de vias expressas.
Além disso, a região é um fundo
de vale, portanto sujeita a inundações. Impermeabilizar o canteiro,
segundo as paisagistas, atenta
contra a qualidade ambiental.
"São tantos os erros que chega a
constranger", afirma Saide, que
chama a atenção para o paliteiro
formado pelas palmeiras. "Elas só
aumentam a poluição visual já intensa do local, cheio de postes e sinalização de tráfego. As palmeiras
exigem espaço para a contemplação porque são altas. Dali, só se vê
os troncos", considera Saide.
Introduzidas por dom João 6º
no Brasil, no século 19, as palmeiras imperiais são usadas para
pontuar edifícios monumentais.
Pela altura, eram plantadas diante
de igrejas para identificar a localização à distância. Também costumam ser dispostas em fileiras nas
entradas de palácios.
"Aquele canteiro tem uma variedade enorme de largura. Há
trechos com menos de um metro,
e que têm duas, três palmeiras.
Não sei como vai ficar", diz Saide.
Sem democracia
Para Katia Rodrigues de Almeida, engenheira agrônoma especializada em paisagismo em Londres, Inglaterra, o processo de
transformação da Faria Lima foi
"lamentável". "Em se tratando de
uma avenida importante e com
profissionais tão renomados
quanto os nossos, o mínimo a esperar seria um concurso de projetos", considera Katia.
No caso da Hélio Pellegrino, na
avaliação de Saide, houve desrespeito a uma obra com autoria.
"Um projeto paisagístico leva
tempo para ser concluído. Quando o meu começava a se configurar, foi dilapidado", diz.
Mesmo problema diz enfrentar
Rosa Kliass com a avenida Paulista. O projeto, da década de 70, é de
sua autoria. Na semana passada, a
prefeita Marta Suplicy fez uma
"eleição" para escolher o novo piso da avenida. A opção vencedora
foi trocar o mosaico português,
desenhado por Rosa há 30 anos,
por blocos de concreto coloridos.
"Não é só desrespeito, é burrice
dos nossos governantes, que não
sabem nem tirar proveito político
disso", afirma Rosa Kliass. "O que
a população sabe sobre qualidade
de um piso? Gestão participativa
não exclui especialistas."
(SD)
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