|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Médico não entende "fúria contra fumantes"
Ex-presidente da regional de SP da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica está indignado com projeto que proíbe fumo em lugar fechado
"Nós agora estamos em uma cidade onde não se fuma, não se joga, não se transa, não se bebe", diz o médico Ithamar Stocchero
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
O médico Ithamar Stocchero, 57, não se arrepende de nenhum dos cerca de 438 mil cigarros que fumou desde os 18
anos. Ao contrário: é defensor
militante do tabagismo. Ex-presidente da regional de São
Paulo da Sociedade Brasileira
de Cirurgia Plástica, Stocchero
chegou a integrar uma associação chamada Libertas, fundada
em 1999 para defender os direitos dos fumantes (e outras "minorias"). A associação se dissolveu depois de sete anos, por falta de um administrador.
Agora, mais do que nunca, o
médico está indignado por causa do projeto de lei que o governador José Serra encaminhou à
Assembléia Legislativa de SP
propondo a proibição do cigarro em qualquer ambiente coletivo fechado da cidade.
"Não consigo entender essa
fúria contra [estimados] 30%
de fumantes na cidade. Desde
que um maluco chamado Paulo
Maluf trouxe essa história dos
EUA, eu luto por direitos iguais.
Agora é o Serra. O que ele quer?
Aparecer? Eleger-se com 70%
de não-fumantes?", pergunta.
"Nós agora estamos em uma
cidade onde não se fuma, não se
joga, não se transa, não se bebe.
Em breve seremos todos anjinhos tocando harpas", diz ele,
referindo-se também ao fechamento dos bingos, às "ofensivas
contra as casas de garotas de
programa" e ao "radicalismo da
lei seca". O médico dá a entrevista a caminho do Rio, para
onde viajou ontem de carro:
"As companhias aéreas perderam um cliente de alto poder
aquisitivo. E o pior é que todo
mundo sabe que tem muito piloto que fuma na cabine".
FOLHA - O que o sr. defende?
ITHAMAR STOCCHERO - Fico impressionado com a interferência do Estado na vida do cidadão. Não sou a favor de fumar
em lugar de não-fumantes.
Mas, se existem 30% de fumantes, por que não permitir que se
fume em um terço dos espaços
públicos?
FOLHA - E a fumaça?
STOCCHERO - O homem esteve
na Lua, não deve ser difícil conseguir um sistema de isolamento das áreas de fumantes. O que
não dá é para parte da população, ainda que seja a minoria,
ser submetida ao resto.
FOLHA - Não acha que a minoria,
quando se fala em coletividade, tem
mesmo de estar submetida ao interesse da maior parte das pessoas?
STOCCHERO - Acho que dá pra
dividir. Não ser tão draconiano.
Por que não preservar lugares
para fumantes?
FOLHA - Como o sr. faz para driblar
a proibição que já existe?
STOCCHERO - Não faço mais
compra em shopping, só na Oscar Freire, não viajo de avião,
nem freqüento mais uma pizzaria chamada 1900, que veiculou um anúncio em que avisava:
"Aqui é um ambiente livre de
cigarro". Agora, se eu não vou a
lugares em que não se fuma,
por que impedir a opção de
quem quiser abrir um restaurante só para fumantes? Não
consigo entender o totalitarismo. Daqui a pouco, serei obrigado a fazer o que eu não quero.
FOLHA - O cigarro não faz mal para
o sr.?
STOCCHERO - Nunca usei o meu
plano de saúde. Nem tomo antidepressivo. Não estou dizendo para todo mundo fumar,
apenas para não interferirem
nas escolhas dos outros. O [nadador] Michael Phelps bateu
todos os recordes e é punido
porque fez comercial de cereal,
que tem açúcar, e açúcar é prejudicial... Onde é que vamos parar? O pior é que ninguém vai te
dar 40 anos outra vez. Isso tudo
eles fazem para você ter qualidade de vida aos 90, 100. E agora, com tanta saúde, a população mundial vai explodir.
Texto Anterior: A favor: "Lei é constitucional", diz professora da USP sobre veto ao tabaco Próximo Texto: Foco: Nem Planalto respeita veto a cigarro em local fechado no Distrito Federal Índice
|