São Paulo, domingo, 01 de junho de 2003 |
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NO LIMITE De 19 setores, 12 já operam acima de 80% da capacidade, diz FGV Indústria pode não dar conta de retomada da economia
FÁTIMA FERNANDES DA REPORTAGEM LOCAL Cresce o número de fábricas que trabalham no limite da produção. De 19 setores consultados em abril pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), 12 já operam acima de 80% da capacidade -percentual que já sugere a necessidade de investimentos em expansão. A escassez de investimentos na ampliação das fábricas -especialmente nos anos 90- e o aumento das exportações estrangularam parte da indústria brasileira. Se a economia reagir no segundo semestre, como prevêem empresários, economistas e o governo, as companhias podem não dar conta da demanda interna e da externa, o que pode comprometer o crescimento do país. De janeiro a abril deste ano, informa a FGV, a média de utilização da capacidade da indústria de transformação foi de 80,9% -1,6 ponto percentual a mais do que a de igual período de 2002. Só em abril, a média foi de 81%. No mesmo mês do ano passado esse percentual foi de 79%. "Apesar de o consumo interno estar contido, a indústria brasileira está operando mais próxima do limite. Só que, como as fábricas não ampliam a capacidade, elas devem se defrontar com grandes gargalos, assim que o governo reduzir as taxas de juros ou der algum estímulo à renda", afirma Salomão Quadros, coordenador de análise econômica da FGV. O setor de papel e celulose aparece, em abril, no topo da lista das indústrias que operam no limite da produção, com 100% de utilização da capacidade. Depois vêm as fábricas de bicicletas, motos e peças (97,2%); de alumínio, cobre e zinco (95,7%); de produtos minerais não-metálicos para construção (92%) e de pneumáticos e câmaras de ar (91%). Sufoco Outro grupo de indústrias, que opera entre 80% e 90% da capacidade, como as de produtos de perfumaria, confecções, papel, papelão e artefatos para embalagens, resinas, fibras e fios artificiais e produtos têxteis, também já está no sufoco, na análise de economistas e empresários. Isso porque, dependendo do tipo de indústria, trabalhar acima de 80% da capacidade já é sinal para deslanchar investimentos voltados à expansão. Essa folga de até 20% na produção, dizem eles, ajuda a fábrica a expandir seus negócios mais rapidamente, caso haja aumento das encomendas nos mercados externo e interno. Afinal, o governo promete ações para fazer o país crescer a partir do segundo semestre deste ano. Pressão "O reaquecimento da economia tem de ser feito de forma gradativa. De outro modo, o país vai enfrentar o gargalo na indústria, seguido da queda da exportação e do aumento da importação, o que pode complicar o saldo comercial do Brasil. Estamos numa situação delicada. Nossa economia está retraída. Mas, em pouco tempo, pode ir para o lado oposto. A arte é reconduzir o aquecimento com moderação, sem enfrentar a pressão de gargalos", afirma Quadros. O Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) fez simulações para o uso da capacidade instalada da indústria levando em conta vários cenários para o país. O que considera mais provável -crescimento de 10% nas exportações setoriais e de 2% nas vendas internas- levaria 20 setores (de um total de 28 consultados pelo instituto) a operar acima de 80% da capacidade. Na simulação do Iedi, a indústria metalúrgica de produtos não-ferrosos chegaria no final deste ano a ocupar 98,3% da capacidade. A de borracha, 97,2%. As siderúrgicas, 96,9%; os fabricantes de calçados, 96,8%; as fábricas de produtos químicos diversos, 91%; e as de produtos têxteis, 90,6%. Isso sem considerar as indústrias que já operam hoje a todo o vapor, como as de papel e celulose. "A luz vermelha já acendeu para a indústria de base [celulose e metalúrgica]. A amarela, para as indústrias química, petroquímica e plástica. Ainda não existe gargalo nos setores de bens de consumo [como o eletroeletrônico], o que pode ocorrer com uma eventual queda nas taxas de juros", afirma Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi. Além das exportações, o que provoca aumento no ritmo de produção das fábricas são as substituições de importação -movimento que começou a se intensificar com a alta do dólar- e a expectativa de melhora no consumo a partir do segundo semestre. Isto é, com a provável queda dos juros, os empresários acreditam que poderão vender mais e, por isso, já estão elevando a produção para atender a uma eventual expansão da demanda. Investimentos contidos Apesar de a indústria estar cada vez mais próxima do limite da produção, os investimentos em expansão estão contidos. Consulta feita em abril pela FGV com 1.290 empresas mostra que apenas 30% delas pretendem aumentar a capacidade produtiva das fábricas neste ano. Esse percentual é o menor dos meses de abril dos últimos quatro anos. O maior percentual -de 43%- foi registrado em abril de 2000. "Os investimentos não deslancham porque o consumo interno está fraco", afirma Jorge Ferreira Braga, coordenador da Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da FGV. As altas taxas de juros e as oscilações da taxa de câmbio também são mencionadas pelos empresários como inibidoras dos investimentos. Na consulta feita pela FGV, 44% das empresas estão prevendo melhora dos negócios no segundo semestre deste ano. No mesmo período do ano passado, os empresários estavam mais otimistas -esse percentual chegou a 52%. Sem investimentos, segundo economistas, o país não deslancha como quer o governo. A taxa de investimento do Brasil sobre o PIB (Produto Interno Bruto), da ordem de 18%, em 2002, é uma das mais baixas do mundo, informa o Iedi. O ideal, dizem os economistas, seria o país acompanhar as taxas de investimentos da Coréia do Sul (27%) e da Malásia (23%), países que também estão em desenvolvimento. 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