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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Construção de "outro mundo" é possível e necessária
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
Economistas e mesmo autoridades de governo têm
insistido, há pelo menos duas
décadas, na impossibilidade de
uma outra política econômica.
A tal ponto essa doutrina impregnou corações e mentes que
os descontentes com a globalização, reunidos em Porto Alegre
(www.portoalegre2003.org),
resumiram suas demandas numa frase direta: um outro mundo é possível.
Ao longo de praticamente todo esse período, semanalmente,
tenho feito um esforço para resumir, interpretar, criticar e antecipar tendências. Muitas vezes, vislumbrando essa possibilidade de uma alternativa. Mais
frequentemente alertando para
obstáculos impostos pela instabilidade global -a começar pelo fracasso do neoliberalismo,
resumido na impotência dos Estados para lidar com a incerteza.
Neste momento em que me
despeço temporariamente,
aproveito para fazer um balanço
das tendências apontadas na coluna, especialmente no "curto
prazo" (os últimos cinco anos).
Duas merecem destaque. Uma
é a emergência da "nova economia", em que a sociedade da informação prenuncia uma economia do conhecimento. Outra
é o retorno global da busca por
nova "arquitetura financeira".
Há uma razão, em especial,
para que o tema da reforma financeira global continue sobre a
mesa. É que a onda de hiperliberalização e desregulamentação
dos mercados financeiros gerou
uma tal volatilidade nas moedas
e instabilidade nos fluxos de capitais que, na prática, a capacidade de calcular riscos, sobretudo nos países desenvolvidos, foi
praticamente inviabilizada.
Até os indicadores mais puramente contábeis, como os critérios de adequação de capital das
instituições financeiras, perderam sentido. A razão de fundo é
simples: nesse quadro de incerteza, não há confiança nas medidas de riscos, porque é o risco
sistêmico que aumenta de modo
imprevisível e irreversível.
Diante do lixo financeiro que
se acumula, não resta alternativa
aos governos de todo o mundo
senão buscar, gradualmente, a
reforma de um sistema que simplesmente não tem mais lógica.
Convivem duas tendências
aparentemente contraditórias.
De um lado, a expansão das redes cria a perspectiva de uma inteligência coletiva, de um salto
da humanidade rumo a um estágio de racionalidade, consciência e construtivismo social.
De outro, o campo onde mais
se desenvolveu a racionalidade e
o cálculo, o sistema financeiro,
parece cada vez mais irracional,
imprevisível e destrutivo.
A contradição se resolverá
porque a incerteza absoluta
obriga até mesmo (ou principalmente) os mais sinceros liberais
a dedicar esforços e criatividade
para criar alguma ordem. É inevitável a reforma dos mercados
e a criação de novas bases para a
racionalidade financeira.
Simultaneamente, a própria
rede de informação global que
serviu de terreno para a desregulamentação pode agora servir
também como ponto de partida
para a identificação de novas
práticas de avaliação de riscos e
oportunidades econômicas.
É um cenário favorável para a
pesquisa e a criação de soluções
inovadoras nos dois campos
que, como diretor acadêmico do
projeto Cidade do Conhecimento, no Instituto de Estudos
Avançados da USP (www.cidade.usp.br), vou explorar.
Novas políticas financeiras são
possíveis para a construção de
um outro mundo. Os leitores interessados em participar desse
mergulho no estudo e na reflexão econômica e política sobre
as tendências internacionais estão convidados a visitar o site ou
mandar um e-mail
(schwartz@usp.br).
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