São Paulo, segunda-feira, 01 de setembro de 2008

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Empreiteiras brasileiras vão para Venezuela no rastro da Odebrecht

Apesar de problemas de Chávez com múltis, empresa é a maior do setor no país

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Os ataques do presidente venezuelano, Hugo Chávez, contra empresas estrangeiras são cada vez mais freqüentes. Mas as ameaças e as nacionalizações não parecem assustar as empreiteiras brasileiras.
No rastro da Odebrecht, há 16 anos no país e hoje a maior empresa do setor, cinco construtoras abriram escritórios na Venezuela ao longo dos últimos anos, atraídas pelos petrodólares e pelas obras estatais.
"Estamos participando de licitações, trabalhando da mesma forma que fazemos nos demais países", diz José Claudio Daltro, diretor de administração da Odebrecht na Venezuela, ao ser questionado sobre trabalhar para um governo que se diz socialista. Com obras no país que somam US$ 3,5 bilhões e 14 mil funcionários, a filial da Odebrecht na Venezuela é hoje uma das mais importantes entre os 14 países que atua.
Chávez, que atravessa uma relação tumultuada com multinacionais por causa das nacionalizações, costuma chamar o presidente da construtora, Emílio Odebrecht, de "amigo" e confia à empresa algumas de suas obras mais estratégicas.
Ao longo das últimas semanas, Chávez realizou dois programas dominicais de TV, o "Alô, Presidente", em canteiros da Odebrecht: a terceira ponte do rio Orinoco, de quase 5 km, e o Metrocable, experiência importada de Medellín (Colômbia) que usa um sistema de teleférico para transportar moradores de uma favela de Caracas.
Chávez conta com o Metrocable para ser seu grande trunfo eleitoral na capital nas eleições regionais de novembro.
"Temos uma presença forte na Venezuela porque conquistamos a confiança e a preferência do cliente ao sermos cumpridores", afirma Daltro.
Localizado na favela de San Agustín, o Metrocable terá cinco estações ligando o morro a duas estações de metrô e capacidade para 15 mil passageiros diariamente. Inclui um ponto panorâmico planejado para ser atração turística, apesar de a região ser uma das mais violentas de Caracas.
Os contratos vultosos da Odebrecht e convites do próprio Chávez fizeram com que outras cinco empreiteiras brasileiras se interessassem pelo mercado venezuelano. Mas a maioria delas até agora não tem contratos assinados.
A principal exceção é a Andrade Gutierrez, que acaba de fechar a construção de um estaleiro no leste do país.
Representantes das empresas brasileiras e profissionais ligados ao setor afirmam que, se a Venezuela tem recursos abundantes e grandes carências em infra-estrutura, não faltam problemas. Os mais citados são as conflituosas relações trabalhistas, a insegurança jurídica, o rígido controle do câmbio e a alta rotatividade de funcionários do governo. As empreiteiras são obrigadas a contratar diretamente sindicatos e cooperativas, que por sua vez se encarregam da contratação de trabalhadores.
Já o controle de câmbio dificulta a importação de material. A autorização oficial pode levar até dois meses. A relação com o governo tampouco é fácil. As decisões costumam atrasar devido às constantes trocas na cúpula, e representantes do governo costumam não aparecer em reuniões.


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