São Paulo, domingo, 01 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRABALHO EM XEQUE

Para pesquisadores, resistência às mudanças será forte, e manter apoio de dirigentes será desafio

Reforma sindical exige cautela, diz Unicamp

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Mudar a estrutura sindical brasileira e manter o apoio dos dirigentes sindicais será um dos grandes desafios do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Para Leôncio Martins Rodrigues, professor titular do Departamento de Ciências Políticas da Unicamp, e para Marco Antonio de Oliveira, pesquisador e professor de Economia do Trabalho da Unicamp, a resistência às reformas é forte.
"Dezenas de milhares de pessoas vivem dessa estrutura -do lado dos empregados e também dos patrões", diz Rodrigues. "As reformas trabalhista e sindical não devem sair no início do governo para não abrir conflito entre os sindicatos em um momento delicado. A tendência é conduzir a discussão com cautela e caldo de galinha", afirma Oliveira.
Para Rodrigues, o governo petista deveria acabar com a contribuição obrigatória e com o monopólio sindical. "O imposto sustenta um bando de sindicatos fantasmas, e a unicidade não permite concorrência", afirma Rodrigues.
Ele também é contra a criação de um fundo sindical como opção de manter os sindicatos. "Quem é que vai pagar isso? São os trabalhadores, nós."
Na avaliação de Oliveira, os sindicatos deveriam sobreviver com a cobrança de mensalidades e de uma contribuição paga na ocasião das negociações salariais por quem se beneficia dos acordos feitos -sejam associados ou não. Também defende que as mudanças na estrutura sindical sejam feitas sem causar "desorganização" e uma "verdadeira guerra pela sobrevivência".
Para Rodrigues, o movimento sindical é uma instituição em declínio no mundo todo. Os setores nos quais o emprego cresce, como nos serviços, diz, não são favoráveis à sindicalização.
A salvação dos sindicatos, diz, na análise de alguns teóricos, "que parece ser também uma idéia de Lula", é deixar de ser uma instituição apenas para representar os trabalhadores. Tem de levantar a bandeira da cidadania, como denunciar a discriminação racial. "Isso permitiria ao sindicalismo ter um outro papel no mundo contemporâneo", afirma.
Para Oliveira, os sindicatos devem recuperar o dinamismo. "O desemprego, com diminuição da base de representação e a política neoliberal dos anos 90, afastaram os trabalhadores dos sindicatos", diz. Com as reformas previdenciária, tributária e trabalhista, a tendência é que os sindicatos voltem à cena.


Texto Anterior: Mercados e serviços: Tabela do INSS para autônomos é alterada
Próximo Texto: Para professor, mudança depende de consenso político
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.