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TRABALHO
Segundo estudo, cresceu a proporção dos setores público e rural dentro da central criada pelo presidente Lula
CUT "envelhece" e se aproxima do Estado
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A CUT (Central Única dos Trabalhadores), que nasceu em 1983
como a central mais aguerrida do
sindicalismo brasileiro, envelheceu, aproximou-se do Estado e
distanciou-se de sua base.
Estudo inédito do Cesit (Centro
de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho), da Unicamp e
da Escola Sindical São Paulo-CUT
revela que, na última década, mudaram o perfil e o projeto político
dos delegados da central que o
presidente Lula ajudou a criar.
A pesquisa "Quem são e o que
pensam os delegados da CUT" foi
realizada durante o 8º Congresso
Nacional da central em junho de
2003 com 1.722 dos 2.500 delegados que participaram do evento.
Os resultados do levantamento
sobre quem são e o que pensam
os delegados da CUT podem dar
subsídios à formulação de políticas e estratégias da central. "O
perfil dos dirigentes é o perfil da
CUT", afirma Claudio Dedecca,
pesquisador do Cesit e um dos
coordenadores do trabalho.
Uma das mudanças no perfil da
central é o envelhecimento dos dirigentes das entidades sindicais ligadas à CUT. Enquanto em 1994,
no 5º Concut, 29% dos delegados
da central tinham mais de 40
anos, em 2003, eram 58%.
"Isso sinaliza um menor grau de
renovação na direção da central. É
um fato novo. Até meados dos
anos 90, a CUT passou por renovação intensa de quadros", diz o
pesquisador da Unicamp.
Esse movimento está associado
ao baixo crescimento econômico
e à falta de postos de trabalho durante a década de 90. Os trabalhadores de diversas categorias ingressaram no mercado de trabalho até a década de 80.
O levantamento também mostra que, enquanto no passado a
CUT lutava pela não-interferência do Estado nas relações entre
patrões e empregados, hoje a central defende "uma regulação estatal combinada com negociação
coletiva". Isso seria uma forma de
garantir um patamar mínimo de
direitos para os trabalhadores.
"Nos anos 80, a CUT defendia o
fim da CLT [Consolidação das
Leis do Trabalho], da Justiça do
Trabalho e a não-interferência do
Estado nas relações trabalhistas.
Em 2003 defende que os direitos
básicos devam ser regulados pelo
Estado e que outros direitos devam ser discutidos nas negociações coletivas", diz Dedecca.
Para 69,3% dos delegados, o
FGTS (Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço) deve ser regulado exclusivamente pela lei, assim como férias (66,9%), 13º salário (63,6%) e licenças maternidade e paternidade (62%).
Distanciamento da base
Um dos pontos que mais surpreendeu os pesquisadores foi o
distanciamento crescente entre os
delegados e as chamadas bases.
Isso porque a maioria dos delegados, segundo o levantamento,
tem cargo de direção -90% dos
delegados ocupavam funções no
primeiro escalão. "Isso mostra
que o último congresso da CUT
foi marcado por reduzida participação da base. Somente 6,7% dos
dirigentes eram diretamente vinculados a algum tipo de organização sindical no local de trabalho",
informa o relatório da Unicamp.
No ano passado, 23% dos delegados presentes eram presidentes
de suas entidades e 9% eram tesoureiros. Há dez anos, esses percentuais eram, respectivamente,
18% e 5%. "Cada vez mais a CUT é
organizada pela liderança sindical. A presença de trabalhadores
de base vinculados a cargos de direção é pequena. A CUT é hoje
uma central de direção sindical."
O trabalho também mostra que
40% dos delegados eram ligados
ao setor público em 1994. Há dez
anos, eram 33,7%. Também dobrou a representação do setor rural (de 10% para 20%) no período.
Não houve mudança na representação do setor industrial, que se
manteve em 16% em dez anos.
O estudo revela ainda que os delegados da central têm renda média de 4,2 salários mínimos
-quase o dobro da renda média
do trabalhador brasileiro (2,5 salários mínimos).
Em relação à não-renovação de
quadros da central e ao envelhecimento dos dirigentes, o presidente da CUT, Luiz Marinho, afirma
que os mais jovens estão em "formação" nas organizações locais
de trabalho. "Já passou pela CUT
a geração de Meneguelli, a de Vicentinho e, atualmente, a minha.
Os mais jovens estão nas Cipas e
nas comissões de fábrica."
A mudança em relação à interferência desejável do Estado deve-se ao fato de o país ter passado por
profundas mudanças em seu regime político, avalia o sindicalista.
"Se antes tínhamos uma ditadura,
hoje temos um Estado democrático. Isso certamente interfere na
relação com o Estado."
Para Marinho, a central se mantém próxima aos trabalhadores
porque está presente nas fábricas
e nos locais de trabalho. "Os delegados que participaram do congresso podem ocupar cargos de
direção, como mostra a pesquisa,
mas eles foram eleitos em congressos e assembléias que reuniram os trabalhadores", diz.
Segundo ele, a CUT não mudou
com o início do governo Lula.
"Apenas aumentou a nossa responsabilidade de defender as lutas dos trabalhadores", diz.
Na avaliação do dirigente, a central está crescendo, se fortalecendo e reafirmando seu papel na sociedade. Há 21 anos, quando foi
criada, a central reunia 362 sindicatos. Hoje, são 3.334 sindicatos
filiados e 22,5 milhões de trabalhadores em sua base. Um mês
antes de o governo petista chegar
ao comando do país, a central
reunia 3.309 sindicatos. No mês
passado, eram 3.334.
"Quem dizia que a CUT iria ser
o braço direito do governo se enganou. Ajudamos a eleger Lula e
apoiamos os projetos a longo prazo. Mas não abrimos mão de criticar o que está errado", diz.
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