|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FINANÇAS
Para o mercado, novo modo de rolar dívida pública seria razão de perdas
Para BC, crítica do mercado é "conversa de perdedor"
Beto Barata/Folha Imagem - 02.abr.01
|
Luiz Fernando Figueiredo, diretor de Política Monetária do BC |
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O diretor de Política Monetária
do Banco Central, Luiz Fernando
Figueiredo, afirma que a crítica do
mercado financeiro ao novo instrumento adotado pelo BC para a
rolagem da dívida em dólar é
"conversa de perdedor".
Segundo Figueiredo, instituições que tiveram prejuízos recentemente no mercado de títulos
querem transferir o erro na avaliação de investimentos ao BC.
"Dizer que o instrumento não deu
certo, para mim, é uma coisa ridícula. Essa conversa para mim é
coisa de perdedor", ressaltou.
Para ele, o novo instrumento
para a rolagem da dívida em dólar, o chamado "swap" [troca de
rentabilidade" cambial, permitiu
ao Tesouro Nacional economizar,
com juros da dívida interna em
dólar e pós-fixada, de 2,5 pontos
percentuais a 3,5 pontos ao ano.
Segundo analistas ouvidos pela
Folha na semana passada, o prejuízo que teria sido causado, entre
outros fatores, pela má condução
do BC das operações de "swap"
chegaria a US$ 3 bilhões (cerca de
R$ 7 bilhões).
Uma das causas para as perdas
seria, de acordo com os bancos,
que o "swap" teria gerado um excesso de papéis pós-fixados
(LFTs, corrigidas a juros variáveis) no mercado, provocando
uma queda brusca no preço desses títulos e para os fundos e bancos.
Até o mês passado, o BC exigia
dos investidores interessados no
"swap" cambial a compra de
LFTs, o que permitia a rolagem
conjunta de dívida em dólar e dívida pós-fixada.
Figueiredo diz que o total de
LFTs no mercado caiu em R$ 23
bilhões de janeiro até agora, o que
desfaria a tese de excesso de papel.
Ele disse também que o BC não
desistiu dos "swaps", como alguns têm dito no mercado. "Pode
ser que no próximo leilão seja
"swap", nada impede", afirmou.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida à
Folha na sexta-feira.
Folha - Por que o BC não fez na semana retrasada nem na semana
passada o "swap cambial"?
Luiz Fernando Figueiredo -Nós
sempre fazemos uma pesquisa
para saber onde tem demanda.
Havia demanda para NTN [Notas
do Tesouro Nacional", para essa
mais curta [com vencimento em
novembro", e também para janeiro e junho. Mas nós preferimos
vender a de novembro.
Naquele momento, havia um
aumento da volatilidade nos cupons cambiais [contratos futuros
de juros em dólar", por isso o que
o mercado queria para rolagem
era um título mais curto, e nós
achamos que era razoável, que era
aquilo mesmo. Nem o BC nem o
Tesouro vão querer vender um título se não houver demanda.
É como você querer vender um
produto que não tem clientes.
Nosso cliente é o sistema [financeiro", que compra os títulos.
Folha - Temporariamente, então,
o BC abandonou o "swap"?
Figueiredo - Não. Pode ser que
no próximo leilão seja "swap",
nada impede. Para nós, do ponto
de vista econômico, é exatamente
a mesma coisa, para o Tesouro,
para o BC. Se o câmbio sobe, a
gente perde. Se o câmbio cai, a
gente ganha. O efeito final é o
mesmo.
Folha - Hoje, o mercado não quer
"swap" ou título mais longo, que
vença no ano que vem, por causa
das eleições, não é?
Figueiredo - Diferentemente do
título cambial, o "swap" não oferece risco de crédito, o risco é marginal. Porque diariamente a operação vai sendo ajustada. Ou seja,
comprar um "swap" longo ou curto é só por uma questão se a demanda dos clientes é por operação longa ou curta. Não tem nada
a ver com risco de crédito, não
tem nada a ver com as eleições, zero, zero.
Folha - No mercado, se faz uma
crítica ao BC de que as operações
de "swap" cambial casadas teriam
provocado um aumento na oferta
de LFTs e derrubado o preço desses
e, com isso, provocando perdas para os fundos de investimento.
Figueiredo - Do início do ano para cá, incluindo junho, venceram
R$ 30,3 bilhões de LFTs. Quantas
LFTs foram vendidas nesse período? Só foram vendidas, praticamente, o saiu nas operações de
"swap". O volume total disso dá R$
7,5 bilhões. Isso quer dizer que
houve resgate líquido, ao longo
deste ano, da ordem de R$ 23 bilhões. Agora, dizer que tem uma
abundância de LFT num período
em que houve resgate líquido de
R$ 23 bilhões, não tem sentido.
Folha - No dia em que houve excesso de LFT, o BC recomprou os papéis para corrigir a oferta?
Figueiredo - Exatamente. E só
não recompramos mais porque
adquirimos todo o volume ofertado a preço competitivo.
Folha - O BC ofertou o "swap casado" e depois o "solteiro". Agora,
volta a vender NTN-D, com vencimento em novembro. No mercado
financeiro há quem diga que o BC
errou, e que a venda dos cambiais é
o reconhecimento do erro.
Figueiredo - Isso, para mim, é
conversa de perdedor. Em nenhum momento falamos que iríamos usar um ou outro instrumento. Como eu disse, é muito
provável que usemos agora, num
futuro próximo, o "swap". Nós não
vamos agredir o mercado, vamos
fazer as operações sempre num
preço compatível com o mercado.
O nosso objetivo é ter o menor
impacto possível. Dizer que isso
foi uma perda... Como foi uma
perda se nós tivemos um ganho
nesse período entre 2,5 pontos
[percentuais" e 3,5 pontos ao ano,
em termos de menor custo para o
Tesouro e para o BC na emissão
de títulos? Dizer que o instrumento não deu certo, para mim é uma
coisa ridícula.
Folha - Ou seja, quando o mercado tem esse discurso é porque quer
justificar a perda, decorrente de erro na avaliação de investimento,
atribuindo a culpa ao BC?
Figueiredo -Claro. Qual o único
agente do sistema que não tem
ganho ou perda? Para o BC, o que
interessa é a normalidade do mercado. Quanto mais normal o mercado estiver, menor é o custo de
emissão, da política monetária, de
todas as nossas políticas. O que
nós estamos fazendo, ao longo
desse tempo, é sempre vendo o
que é melhor para o mercado.
Folha - Como o sr. explicaria para
os cotistas dos fundos por que ele
teve perdas agora?
Figueiredo -Primeiro, com a nova regulamentação, o fundo está
refletindo melhor o valor do investimento. Antes, não estava refletindo de maneira tão tão transparente, principalmente para o
pequeno investidor. Agora, ele está muito mais protegido agora.
Nos fundos de renda fixa, quando a cota cai, é porque os ativos
caíram de preço. Isso quer dizer
que no futuro esse investidor terá
rentabilidade maior.
Folha - Os fundos nos quais o senhor tem investimento tiveram
queda perdas com a mudança?
Figueiredo -Eu tenho aplicações
em três fundos. Um é de renda variável, que já é a preço de mercado. Nos outros dois fundos, que
são de renda fixa, um também já
estava a preço de mercado. O outro eu nem sei, para ser honesto. É
aquela história, a gente olha tanto
para o trabalho que não conseguimos olhar para o nosso próprio
investimento.
Texto Anterior: Lançamento: Livro conta história do euro Próximo Texto: Para especialistas, BC errou e reconhece Índice
|