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COLAPSO DA ARGENTINA
Para chefe da missão do Fundo para o país, troca de depósitos por títulos deveria ser compulsória
FMI questiona plano que "abre" curralzinho
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
O plano do governo Duhalde
para flexibilizar o curralzinho,
formalizado ontem e que propõe
a troca dos depósitos bloqueados
por títulos públicos, foi questionado pelo FMI (Fundo Monetário
Internacional).
Segundo o jornal "La Nación", a
diretoria do Fundo discutiu o plano na sexta-feira. O chefe da missão do FMI para o caso argentino,
Anoop Singh, teria dito ao diretor-gerente, Horst Köhler, e à vice-diretora-gerente, Anne Krueger, que a proposta não eliminaria
as restrições impostas pelo curralzinho, pois só uma parcela dos
correntistas deve optar pela troca
de depósitos por títulos.
Segundo o jornal, o FMI teria
concluído que o melhor seria impor a obrigação de que todos os
correntistas recebessem títulos,
porque só assim o curralzinho
poderia ser de vez eliminado sem
haver pressão sobre o dólar.
Ontem, ao apresentar o decreto
que flexibiliza o curralzinho, o
ministro da Fazenda, Roberto Lavagna, admitiu que a troca compulsória era a opção preferida por
Singh, mas afirmou que o mecanismo é "inviável" do ponto de
vista legal e "não reparte equitativamente os impactos do colapso
do sistema financeiro". Acrescentou que houve manifestações favoráveis ao decreto atual por parte de alguns diretores do Fundo.
Segundo Lavagna, o fim do curralzinho não é um pré-requisito
para a negociação de um empréstimo estimado em US$ 9 bilhões,
e o início dessa negociação com o
FMI só depende do fechamento
de acordo para a redução do déficit da Província de Santa Fé.
O presidente argentino, Eduardo Duhalde, disse ontem que o
acordo com o FMI sai "em questão de semanas" e que "a antecipação da eleição presidencial não
soluciona a crise".
Segundo Lavagna, o decreto beneficia os correntistas por oferecer três opções de títulos para a
devolução dos depósitos -dois
em dólar e um em pesos. A opção
poderá ser exercida durante 30
dias a partir de amanhã. Quem rejeitar os títulos terá de esperar para receber os recursos em dinheiro, em várias parcelas e até 2005,
seguindo o cronograma estabelecido pelo governo em fevereiro.
O governo espera que o plano
dê alento ao setor produtivo, já
que os títulos poderão ser usados
para a compra de casas e carros
novos e de ações lançadas em Bolsa, para investir em fundos, cancelar dívidas, pagar hipotecas e
impostos atrasados, além de poderem ser revendidos em Bolsa.
O ministro também decidiu
usar o temor de quebradeira de
bancos a seu favor. O decreto prevê o socorro dos correntistas pelo
governo nesses casos, mas com títulos públicos com menor rentabilidade do que os que estão sendo oferecidos agora.
Lavagna também declarou que
o projeto cria mecanismos para
promover a "rebancarização" na
Argentina porque prevê a duplicação de parte das 17,6 milhões de
contas correntes existentes no
país. As novas contas formarão
uma espécie de sistema bancário
paralelo que não terá restrições
para saque e pagará correção monetária para compensar a inflação.
Para o governo, as antigas contas que obedecem às regras do
curralzinho deverão desaparecer
em alguns anos, restando apenas
o novo sistema.
Além disso, o governo prometeu dar aos bancos US$ 9,5 bilhões
em bônus para compensá-los pela
"pesificação" da economia. Mesmo assim, os banqueiros consideram o plano "insuficiente". Eles
acreditam que a duplicação das
contas só vai agregar custos às
instituições financeiras.
"O problema é a falta de confiança no sistema bancário, o que
não será resolvido enquanto houver o curralzinho", disse Gabriel
Caracciolo, analista de bancos da
Standard & Poor's. "Penso que,
com esse plano, os argentinos
continuarão a buscar o dólar, e
não os bancos, para se precaver da
desvalorização cambial", afirmou.
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