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ANÁLISE
Há dúvida sobre efeito no preço
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O governo está dando um volume maior de crédito e a juros
menores para os produtores na
safra 2008/9. Só isso já seria
um ponto positivo para a avaliação do novo plano de safra.
Outro ponto altamente favorável é a busca do aproveitamento de terras degradadas,
que se tornaram improdutivas
com o uso constante ou por deficiência do solo. Isso torna o
produto brasileiro bem mais
sustentável e o retira da discussão sobre a degradação do ambiente e o avanço da produção
no bioma amazônico.
Mas alguns fatores extras do
momento, e que não dependem
do governo, podem anular os
efeitos dessa melhora na política agrícola. Os produtores têm
um dos maiores patamares de
custos de produção dos últimos
anos e vêem as tradings, que
sempre forneceram um terço
do crédito agrícola, pisar no
freio e reduzir a participação
nesses financiamentos.
Alguns estudos indicam que
as tradings não devem participar com os 33% tradicionais
que fornecem aos produtores.
Na média, os empréstimos dessas empresas podem ficar abaixo de 20% do total que os produtores utilizam por safra. Ou
seja, pode faltar dinheiro para o
produtor. Tradicionalmente, o
capital utilizado na produção
vem do governo, das tradings e
do capital próprio dos produtores -cada um participando
com um terço.
O aumento de produção, portanto, vai depender de clima e
de como os produtores vão resolver os problemas de custo.
A meta do governo, no entanto, de elevar a safra para 150 milhões de toneladas de grãos, é
acanhada. Bastaria apenas 1
mihão de hectares a mais de
milho para o país atingir o diferencial da safra atual para a de
2008/9.
Mesmo com o avanço da produção, os preços das matérias-primas exportáveis não devem
ceder no mercado interno.
O volume a ser produzido,
superior às necessidades brasileiras, ainda é muito pouco para a recomposição dos estoques
mundiais, o que mantém os
preços externos em alta. E a
formação de preços desses produtos vem do exterior.
Incentivo para estoques
Para garantir o abastecimento interno, o governo está incentivando a produção de quatro produtos considerados sensíveis -milho, arroz, trigo e feijão. Desses, apenas o último
tem formação total de preço no
mercado interno.
A intenção do governo é voltar à formação de estoques de
pelo menos 6 milhões de toneladas de produtos essenciais.
Esse volume é pequeno em relação aos 20 milhões que o país
chegou a ter na década de 1980.
O problema é que esse acúmulo
de estoques, mesmo feito em
período de safra, pode elevar
ainda mais os preços, que já estão pressionados.
As medidas do plano atual de
safra do governo, no entanto,
respondem ao anseio dos produtores: retira taxas que oneravam o financiamento de máquinas, amplia os limites de
crédito, reajusta os preços mínimos e eleva o volume de subvenção de seguro rural.
Essas medidas, no entanto,
ainda são incipientes em vista
dos anos perdidos de política
agrícola nesta década, apesar
dos esforços dos ex-ministros
da Agricultura.
O país deve começar um programa de política agrícola visando o médio e o longo prazos,
uma vez que a política atual resolve problemas pontuais, mas
deixa em aberto gargalos de dimensões maiores.
Além dos tradicionais problemas de infra-estrutura, que
geram custo extra aos produtores brasileiros em relação aos
concorrentes estrangeiros,
chegaram novos ônus neste
ano, como o peso de adubos e
fertilizantes. Pouco se pode fazer nesse setor antes de, pelo
menos, meia década.
O seguro rural, por exemplo,
é um dos fatores mal-resolvidos no passado.
Mesmo com o aumento de
61% nesta safra -desde que seja todo utilizado-, esse seguro
vai cobrir apenas 10% da área
de plantio do país.
Uma das metas importantes
do governo a médio prazo, desde que realmente seja efetivada, é a aposta nas pesquisas. A
agricultura poderia elevar a
produtividade e conseguir tecnologia apropriada para o aproveitamento de novas áreas.
Só o Paraná, tradicional produtor nacional, perdeu próximo de 250 mil toneladas de soja
pelo uso inadequado de sementes. O avanço da pesquisa deve
eliminar esses gargalos.
A aposta do governo no aumento da produção de alimentos via agricultura familiar
também é acertada. O programa de apoio deve elevar o fornecimento de máquinas, principalmente tratores de pequeno porte, para 60 mil unidades
nas próximas três safras.
A produção para o mercado
interno será ampliada, mas é
preciso melhorar a comercialização desses produtos, que vêm
de agricultores com escala bem
menor.
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