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Crescimento do PIB pode cair a 4%, diz Coutinho
ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social),
Luciano Coutinho, disse ontem
que a produção industrial brasileira se encontra em processo
de "leve desaceleração"-que
considerou "saudável"-, com
reflexos no PIB (Produto Interno Bruto) a partir do ano que
vem. Para ele, no pior cenário
internacional (agravamento da
crise americana, maior pressão
inflacionária e desaceleração
da economia global), o crescimento do PIB brasileiro poderá
cair para 4% em 2009.
Hoje, a estimativa oficial do
BNDES ainda é de crescimento
entre 4,5% e 5% em 2009. Mas
isso só ocorrerá no melhor cenário internacional, diz Coutinho, considerado um dos principais interlocutores econômicos do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Em mais de uma
oportunidade, Lula já manifestou o desejo de que o país cresça numa faixa de 5% ao ano.
Segundo o presidente do
BNDES, dada a atual conjuntura econômica- fortes pressões
inflacionárias vindas do exterior e também do front doméstico-, a desaceleração "leve"
terá saldo positivo.
"É saudável. Vai facilitar a tarefa da política fiscal e monetária de manter a inflação sob
controle. Teremos um ritmo de
crescimento mais equilibrado e
sustentável", ponderou Coutinho, ao apresentar um indicador do comportamento da indústria de bens de capital elaborado pelo BNDES.
O índice Finame (programa
do banco para financiar a compra de máquinas e equipamentos), que mede o consumo aparente de bens de capital, começou a ser divulgado ontem -e já
reflete a "leve desaceleração"
mencionada por Coutinho.
O consumo aparente é a soma de tudo o que é produzido
pelo setor de bens de capital,
mais as importações. Ou seja,
mensura a demanda doméstica
de um setor estratégico da indústria: o que produz máquinas
e equipamentos utilizados por
outras indústrias.
Em junho, a variação acumulada nos últimos 12 meses do
setor de bens de capital foi de
19,8%. É o segundo mês seguido de queda: em maio, o crescimento anualizado havia sido de
22,3% e, em abril, de 23,2% -o
ápice de uma trajetória de forte
alta iniciada em abril de 2007.
"É importante destacar que
os bens de capital vinham registrando taxas altíssimas de
crescimento. Estatisticamente,
a base de comparação já era alta. Se ficar acima de 15%, está
muito bom. O importante é ficar acima da taxa média da economia", afirmou Coutinho.
Para o presidente do BNDES,
essa desaceleração ainda não
reflete a piora das expectativas
de inflação, acentuada nas últimas semanas. Como a inflação
acelerou a trajetória de alta, o
mercado espera que o Banco
Central promova novas elevações na taxa básica de juros.
Para o economista José Márcio Camargo, da gestora de recursos Opus, ainda não há sinais claros de desaceleração da
economia. Mas eles virão: "É
uma conjunção poderosa de fatores externos e domésticos. Lá
fora, a alta de preços das commodities. Aqui, uma demanda
muito aquecida. A capacidade
de produção bateu no limite e a
demanda continua crescendo".
Na opinião da economista
Marcela Prada, da consultoria
Tendências, o processo de desaceleração deve se acentuar
nos próximos meses: "Já há impacto da redução da renda real,
por causa da alta da inflação. E
a elevação dos juros impacta na
demanda doméstica".
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