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Executivas liberam seu lado feminino
Profissionais deixam de imitar homens para assumir estilo próprio de gestão, que valoriza a intuição e a sensibilidade
Mudança de atitude das mulheres é percebida também no vestuário, com maior uso de maquiagem, peças coloridas e jóias
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando as mulheres começaram a desbravar o mercado
de trabalho, naturalmente espelharam-se nos modelos de
autoridade que conheciam: o
pai, o professor, o chefe. E trataram de esconder muito bem,
debaixo do terno preto e da camisa branca, todas aquelas
qualidades tipicamente femininas que eram consideradas sinal de fraqueza. Para conquistar um lugar e construir uma
carreira, ensinaram-lhes, deveriam ser competitivas, individualistas, independentes ao extremo, duras, agressivas e agir sempre de acordo com a razão.
Como um homem, em resumo.
Neste início de século, porém, cada vez mais elas têm
percebido que não precisam
imitar. Assumindo as suas características peculiares, impõem o próprio estilo de gestão.
A feminilidade, agora, é valorizada no mundo corporativo.
"Na cópia, exageram-se os
trejeitos do original. Foi isso o
que aconteceu com as mulheres, elas acabaram abandonando a sua autenticidade, desempenhando um papel que não
era delas", comenta Robert
Wong, presidente da empresa
de recrutamento de executivos
que leva o seu nome. "Mas profissionais descobriram que o
sucesso está no equilíbrio, que
tanto o seu lado feminino como
o masculino devem ser desenvolvidos porque são complementares. Melhor do que ser
normal, seguir os padrões vigentes, é aprimorar os seus aspectos intrínsecos."
Wong, na verdade, não gosta
dos termos "feminino" e "masculino", pois acha que remetem
a estereótipos. Prefere lançar
mão dos conceitos chineses de
yin e yang. "O yin é o intuitivo,
colaborativo, que ouve as suas
emoções, interdependente. É a
força criadora. Altamente desejadas em líderes, tais propriedades também têm que ser cultivadas pelos homens."
Para Fernando Braga, consultor da empresa de recrutamento Robert Half, as empresas estão aprendendo a aproveitar as habilidades das suas
colaboradoras. "Somos especializados em mercado financeiro e notamos que há tantas
mulheres quanto homens em
cargos de liderança. Disputam
posições de igual para igual e
ganham salários iguais", diz. "A
sensibilidade faz com que elas
tenham um trabalho em equipe
muito forte. Claro, não se pode
ser super-sensível porque é necessário suportar pressões. O
processo de autoconhecimento
evidencia quais são os seus
pontos fortes e o que ela tem
que aprimorar."
Em meio a essa transformação, até mesmo chorar no escritório, o que antes era visto como o pecado capital das mulheres, está sendo mais tolerado.
"Acontece. Em um momento
em que ela está desestabilizada,
é a válvula de escape que encontra, da mesma maneira que
há homens que dão um soco na
mesa. Não podemos ser radicais, isso não desabona a profissional. Eu até prefiro quem
chora a quem bate na mesa",
diz Braga.
Estampa
A atitude mais feminina tem
levado as mulheres a mudar até
o seu guarda-roupa, deixando
de lado algumas das regras rígidas que anteriormente cerceavam a sua personalidade. "O visual é parte importantíssima da
comunicação da identidade da
executiva", afirma a consultora
de imagem paulistana Patricia
Tucci. "Hoje em dia, as unhas
podem ser pintadas de vermelho, uma maquiagem leve é recomendável -com parcimônia-, o vestido é usado com
freqüência. Assim, a mulher coloca-se como uma boa profissional preservando a sua personalidade", acrescenta Andrea
Azevedo, consultora mineira.
Os trajes servem até para
corrigir mensagens passadas
pelas atitudes. No caso de uma
mulher que julgue que as suas
maneiras estão masculinizadas
demais, a sugestão de Tucci é
que ela passe a usar peças claras
para suavizar a aparência. Já as
executivas que falam docemente têm que investir em um vestuário sóbrio.
A fim de ajudar as funcionárias a afinar a maneira de se
apresentar, algumas empresas
até contratam os serviços de especialistas. Tucci, por exemplo,
deu palestras e assessoria individual para as executivas da
GRSA, que administra restaurantes em empresas. "A imagem projetada por um profissional inclui estética e conteúdo. Funciona como um cartão
de visitas da empresa", justifica
Márcia Cubas, diretora de recursos humanos da companhia.
Maria Cristina de Souza Azevedo, 31, gerente de marketing
da divisão saúde e empresas da
GRSA, diz que as lições a deixaram mais segura. "Ficar pensando se estamos vestidas adequadamente para uma reunião
fora da empresa desvia a atenção", observa.
Sua colega Viviane Caputo,
37, gerente de operações, até
pouco tempo atrás não se preocupava com o que vestir. "Mas
entendi que isso é relevante para aqueles com quem nos relacionamos no ambiente de trabalho. Mostra de fato quem somos e queremos ser."
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