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ILUSÃO DE ÓTICA
Empresas deixam de remeter US$ 6,6 bi; investimentos cobrem 43% da necessidade externa de financiamento
Conversão de dívida em investimento direto conteve dólar
DA REPORTAGEM LOCAL
A conversão de dívida em investimento pelas empresas, embora infle de forma artificial a
conta de investimento estrangeiro direto neste ano, é considerada
positiva para o balanço de pagamentos brasileiro.
"Não é só manobra contábil,
pois ela reduz as saídas futuras de
recursos para pagamento de juros
e dá um alívio para os próximos
anos", diz Alexandre Maia, analista da GAP Asset Management.
Outra vantagem, do ponto de
vista macroeconômico, é que essas operações aliviaram a pressão
sobre o câmbio. Segundo analistas, se as empresas locais tivessem
remetido ao exterior os US$ 6,6
bilhões que foram convertidos
em investimento, o dólar teria superado o pico dos R$ 4 em que esbarrou em outubro. "Embora seja
um dado contábil, é positivo",
afirma Fernando Barboza, economista do BBV Banco.
Na sua opinião, apesar de toda a
crise que o país viveu neste ano,
"as empresas internacionais mostraram que confiam nos fundamentos da economia. Se passaram de credoras a investidoras é
porque viram que o Brasil não vai
quebrar", diz Barboza.
Inchaço
Estudo do BBV mostra que apesar do inchaço da conta de investimento estrangeiro direto, o financiamento do déficit em conta
corrente não foi comprometido.
Segundo o banco, se for considerado apenas o investimento
"genuíno", expurgada a conversão de dívida, o investimento estrangeiro direto responde por
43% das necessidades totais de recursos externos do país, próximo
da média registrada desde 1995.
Só está abaixo do pico da série
analisada pelo banco, dezembro
de 2000, quando correspondia a
58% dessas necessidades.
Vale lembrar, entretanto, que as
necessidades totais de financiamento externo são hoje US$ 33,5
bilhões inferiores às observadas
em dezembro de 2000.
Para as empresas, os analistas
dizem que essas operações deram
fôlego para enfrentar o próximo
ano. Mas em alguns casos não foi
suficiente. A Light depois de receber, em abril, um empréstimo de
US$ 1 bilhão da matriz para quitar
dívidas, transformado em aporte
de capital, anunciou na sexta-feira
um novo aporte da estatal francesa EDF, no valor de 205 milhões.
Os novos recursos, segundo
analistas do setor, destinam-se ao
pagamento US$ 250 milhões em
dívidas que vencem até junho do
ano que vem. O problema da empresa, segundo um analista do setor, é que o aporte de US$ 1 bilhão
feito no início do ano foi convertido em reais e acabou corroído pela desvalorização cambial.
Segundo esse analista, a empresa teria feito hedge (proteção)
parcial, devido ao custo elevado
desse tipo de operação. Procurada pela Folha, a empresa não se
manifestou.
(SANDRA BALBI)
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