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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Nova guerra mundial já começou na internet
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
Enquanto a mídia joga o
facho sobre o ataque iminente ao Iraque e sobre atentados terroristas, uma guerra em
escala global e que atinge níveis
crescentes de violência passa
quase ao largo, por enquanto
olimpicamente desapercebida.
Mas no final de outubro uma
nova bomba foi detonada.
O petardo classifica-se como
DDOS (sigla de "distributed denial of service"). Em resumo,
um ataque de hackers contra os
roteadores mais estratégicos da
infra-estrutura da internet (os
pilares dos "backbones").
Em linguagem menos técnica:
trata-se de um tipo de ataque em
que as redes são bombardeadas
com quantidades tão grandes de
informação que ocorre um congestionamento ou estrangulamento, levando à paralisação da
rede de computadores.
Cada vez mais, tais ataques são
perpetrados por grupos. São
ataques múltiplos em que por
exemplo os atacantes combinam o poder de vários computadores para inundar de informação uma determinada rede.
Segundo especialistas, o ataque ocorrido há poucos dias não
tem precedentes em termos de
sofisticação.
O "The Washington Post" notou que esse foi o maior e mais
complexo ataque DDOS de que
se tem notícia. O jornal cita uma
fonte identificada apenas como
sendo de "uma das organizações responsáveis pela operação
de servidores de raiz". Esses
"root servers" formam a espinha dorsal da rede global. Quebrar essa espinha pode significar
uma potente semeadura de caos
nos sistemas digitais globalizados, dos quais a internet é a ponta mais visível.
Atingir essas infra-estruturas
não é apenas uma questão tecnológica. Os operadores da rede
global são empresas como a
WorldCom, que apenas em
uma de suas unidades processa
praticamente metade de todo o
tráfego mundial da internet.
Há 13 servidores "de raiz" no
mundo, que funcionam como
"diretório mestre" da rede planetária. Ocorre que dez estão
nos EUA. Derrubar essa infra-estrutura significaria abalar de
modo crítico o núcleo dominante da estratégia militar-industrial americana e, de resto, uma
infra-estrutura por meio da qual
a potência imperial claramente
domina um decisivo palco (virtual) do desenvolvimento.
Ataques desse tipo são comuns também sobre alvos determinados: Em fevereiro de
2000, a Amazon, o e-Bay e o Yahoo!, importantes portais de alcance global, tiveram suas atividades paralisadas por várias horas por causa de ataques DDOS.
Tudo isso pode ser obra de um
punhado de hackers adolescentes que não têm mais o que fazer. Mas as principais autoridades da internet mundial temem
também que algo mais sério
possa estar em jogo.
Uma das mensagens do 11 de
setembro é que as armas usadas
para a destruição do inimigo infiel podem ser as que estão sob o
controle do próprio inimigo.
Mais ainda, podem ser coisas ou
objetos que parecem pacíficos e
familiares, mas que subitamente
assumem claros contornos militares e de segurança global. Essa
regra se aplica aos aviões. E cai
como uma luva sobre a própria
internet: um veículo que transporta informação e que também
pode ser usado como uma bomba informacional.
O efeito mais destrutivo, no
entanto, não é a paralisação
temporária de serviços oferecidos pela internet. É o impacto na
confiança que cada indivíduo
tem na segurança de pegar um
avião ou mandar um e-mail.
As escaramuças na internet
talvez sejam apenas mais um
exemplo de uma perda global de
confiança na capacidade humana de se comunicar e cooperar.
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