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MARCHA LENTA
Para banco, comportamento retraído das companhias é causado pelo endividamento elevado em dólar
Empresas temem investir, detecta BNDES
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
Os resultados operacionais do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) no primeiro trimestre revelam um dado preocupante. Segundo os números, só há crescimento nos financiamentos de pequeno porte, destinados a projetos de renovação ou modernização das unidades já existentes.
De janeiro a março, enquanto
os desembolsos do banco caíram
14%, aqueles destinados a pequenos investimentos cresceram
25,9%. São empréstimos de, no
máximo, R$ 10 milhões.
Esses empréstimos se encaixam
no âmbito dos programas Finame
(compra de máquinas e equipamentos), BNDES Automático (investimentos pequenos em instalações) e Finame leasing (aquisição
de máquinas e equipamentos por
meio de contratos de aluguel).
Nos três primeiros meses do
ano passado esses três programas
haviam emprestado R$ 1,431 bilhão, valor que passou para R$
1,802 bilhão no primeiro trimestre deste ano, crescimento concentrado, basicamente, na aquisição de máquinas e equipamentos.
Nessa rubrica, o aumento foi de
34%, passando de R$ 787,3 milhões para R$ 1,055 bilhão.
A participação desses pequenos
empréstimos no total desembolsado pelo banco atingiu quase um
terço (32,8%) no primeiro trimestre deste ano, contra menos de
um quarto (22,4%) no mesmo período do ano passado.
Esses números revelam que os
investimentos em novas unidades
encolheram. Os empresários, no
geral, estão preferindo aplicar
poucos recursos para obter ganhos de capacidade produtiva
adicionais dentro dos limites das
instalações já existentes.
Analistas estão preocupados
com a possibilidade de que essa timidez leve a uma nova redução
da taxa de investimentos do país,
que no ano passado já foi a menor
em dez anos (17,3%).
Essa constatação se soma a dois
outros motivos de preocupação
que já haviam sido constatados
nos números do banco, praticamente a única fonte de financiamentos produtivos de longo prazo do país: a drástica redução tanto no número de aprovações de
novos projetos (queda de 65%)
quanto no de pedidos de novos financiamentos (menos 57%).
A queda do número de aprovações está ainda relacionada com a
transição no BNDES, uma mudança que foi não apenas de nomes, mas de modelo. Já a queda
nos pedidos parece decorrer da
mesma causa que faz crescer as
pequenas operações: a falta de fôlego das empresas para investir.
Endividamento
O diretor da Área Industrial do
BNDES, Maurício Lemos, disse
que esse comportamento retraído
das empresas decorre, principalmente, do elevado endividamento no qual muito setores mergulharam por conta da alta do dólar
no ano passado. "O problema número um deles é ficar livre do endividamento", ponderou.
Segundo Lemos, como a instabilidade segue presente no cenário cambial, "há uma incerteza
muito grande" entre os empresários. Para ele, os empresários ainda não sabem qual a taxa de câmbio com a qual irão trabalhar.
Lemos avalia que, embora seja
boa para os endividados, a queda
do dólar não pode seguir indefinidamente, sob pena de prejudicar
não apenas as exportações, como
os setores que, estando protegidos contra a alta do dólar, ganharam no final do ano passado e estão em condições de investir, como o de papel e celulose e o siderúrgico. Para ele, o dólar abaixo
de R$ 3 já é "preocupante".
"Eu não esperaria nada diferente neste momento", disse a economista Simone Saisse, coordenadora-adjunta da Área de Política
Econômica da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Para ela, há outro fator inibindo
as intenções de investimentos dos
empresários, que é o aperto monetário materializado na alta dos
juros e na retração do crédito. "O
baque levou a uma piora na expectativa do empresário, apesar
das perspectivas de melhoria no
médio e no longo prazos", disse.
A indústria de construção naval,
uma das prioridades da atual gestão do BNDES, recebeu dois dos
três maiores financiamentos neste ano, totalizando R$ 155 milhões.
A maior aprovação, no valor de
R$ 409 milhões, foi para a Embraer, que tem sido a maior beneficiária individual dos empréstimos do banco nos últimos anos.
Os números são referentes ao
período de janeiro a março. De
acordo com os técnicos do banco,
como o tempo de tramitação de
um projeto, desde a chegada do
pedido até a aprovação, demora
mais do que três meses, todas as
aprovações feitas até março ainda
são remanescentes de pedidos
deixado pela gestão anterior.
Isso, de acordo com esses técnicos, não impediu que já tenha havido alguma interferência da nova
política do BNDES nessas aprovações. A liberação de recursos para
reativar a indústria naval tem sido
considerada por Carlos Lessa,
presidente do banco, uma das
marcas do seu início de gestão. Ele
disse que neste ano pretende
aprovar projetos de construção
de embarcações em valor total superior a US$ 400 milhões.
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